quarta-feira, 16 de maio de 2018

The Cat Diaries (14) We Have to Talk About Max

E o mai'novo, hein? Ainda é vivo? Ou andas aqui a apregoar uma felinilusão de felicidade quando, na verdade, felimãe negligente e imprestável que és, às tantas o bicho não te sobreviveu nas mãos.

Não, não, Max é vivo - e nota-se - e é Mad, Mad as hell, Mad as a hatter, e não foi por inalação ou contacto com chumbos ou o caneco.
Mad Max vive e gosta disso. E de o demonstrar. Basta o anúncio do nascer do dia, a mais fina réstia de luz, e lá está ele, a anunciar alegria de viver. Não, não se dorme, naquela casa. Não podemos, não estamos autorizados; pelo menos antes de algum de nós vencer o estupor do sono e levantar-se, por o bicho fora do quarto, e fechar a porta.
Ah, tanta queixinha, então porque dormem de porta aberta?
Porque situações.


Designadamente aquelas de ele gostar muito de dormir enroscado aos pés da cama, e ninguém resiste, a menos que tenha uma pedra no lugar do coração.
Ó a coija ma'boa, a mimir.



A sério, o bicho é uma delícia, uma fofura. A menos que esteja naqueles momentos de profunda euforia, que são cerca de 75% dos que passa acordado.
Nos restantes 25%, vai-nos receber à porta de casa com marradinhas e roçadelas, adora festas e miminhos, aceita colo e beijinhos no cocuruto, é um guloso que não vira a cara a petisco nenhum, uma companhia adorável.

De repente, dá-lhe a loucura de existir, e está a saltar para cima da bancada da cozinha enquanto alguém tenta preparar uma refeição (posso gabar-me de ser uma pro em pô-lo a andar sem comprometer a higiene de mãos e alimentos; quanto à bancada, bof, não se poisa lá nada que tenha como destino a boca humana, para isso servem as tábuas). Felizmente já lhe passou a mania de saltar para a mesa enquanto jantamos ou pequeno-almoçamos, dêmos graças pelas pequenas bênçãos.
Mas a fruteira continua vazia, sob pena de não haver pêra ou maçã que escape a uma jogatana e venha a ser encontrado num recanto qualquer. Até as malaguetas, jesussenhor, até as malaguetas serviam para a brincadeira (dica da semana: aquelas caixinhas plásticas com fechos de pressão - onde também são guardados os biscoitos catisfaction: menino conseguiu, à força de dente, rebentar duas embalagens e esvaziar o interior. ainda experimentámos um tupperware pequeno, mas nã: sua excelência jogava-o ao chão, abria-se, e banquete. mais esperto que a encomenda.). A nossa vida passou a ser isto: todos os dias entrar em casa e ter uma surpresa à espera. E estas são só as de cozinha.

Porque há as outras. E a verdadeira prova de amor, isto é, o ficar bem assente que gente gosta mesmo, mesmo do bicho, e não há nada que faça que o destine ao tacho? O momento em que ficou claro, clarinho, que não vai ser transformado em estola em consequência de fúria com justa causa? O instante em que percebi que pronto, é mesmo assim, é ter paciência, coerência, insistência na educação, e dias melhores virão? Que não é defeito, é feitio, e podemos trabalhar com isso? Que pronto, 'tá bem, fez esta, é muito mau, mas vou ali enrolar-me em posição fetal e gritar para dentro?

Não, não foi com a insistência em jogar os meus óculos de sol do alto do camiseiro para o chão (passei a poisá-los noutro sítio).
Não foi o planticídio de quase toda a espécie envasada lá de casa (é por os vasos em locais mais altos, e alguns, trazer aqui para a chafarica onde trabalho).
Não foi a mania de, quando era mesmo um piolhito, a meio da noite passar por cima de mim e deitar-se em cima da minha cabeça, não sem antes cardar devidamente a peruca natural que ainda tenho (já passou, já passou).
Não foi o ser um chato mordedor/arranhador, perito em emboscadas a membros inferiores e superiores, que fez de nós umas autênticas velhotas a comparar mazelas (isso? um arranhão? isso não é um arranhão, já viste a minha canela?)
Não foi acordar-nos de madrugada todos, mas todos os sábados e domingos, alguns deles enquanto raspava a porta do roupeiro, dado que descobriu que yay!, é divertidíssimo andar lá dentro a brincar ao esconde-esconde entre pernas de calças e mangas de camisas.
Não foi o ter de esconder todos os carregadores porque, atenta a sua semelhança com fitinhas, acabavam promovidos a brinquedo de perseguir, chutar, mastigar.
Não foi o facto de ter (quase) desistido de usar saia, porque Sua Ruindade achava graça saltar e pendurar-se nas bainhas, ou atacar as pernas já revestidas de collants (hoje vesti. nada a relatar. ufa).
Não foi o ter de me lembrar de só colocar echarpes ou cachecóis só à saída, e tirá-los à entrada, porque fitas, ver supra, imaginar a loucura.
Não foi aquela vez em que, observando me mate a por a gravata (vide assunto fitinhas), lhe saltou ao lombo e rasgou uma camisa (nova, por sinal).
Não foi ter descoberto que roeu o cabo de internet que liga ao portátil.
Não foi o termos, tantas, tantas vezes, uma série ou filme interrompidos porque o demonico resolveu brincar atrás do móvel da tv e desligou o cabo.
Não foi o enésimo rolo de papel higiénico destruído, nem o facto de termos de fechar sempre a porta da casa de banho, e, nunca fiando, deixar o rolo escondido.
Não foi o dar cabo da paciência à Scully com emboscadas constantes (acho que já percebeu que não, não se faz. vá, já não é tão frequente).
Não foi os vasos partidos por estarem no caminho de corridas e saltos, não foi a terra fora dos ditos vasos e o constante varrer da varanda, não foi o ter de encontrar uma solução para não chacinar (também) todas as plantas da varanda.
Não foi o ter roído a minha capa do telemóvel, arrancando ali 1 cm2 da dita; não foi eu ter mandado vir outra capa, que chegou numa sexta (recordo vivamente) em que logo procedi à substituição, para no dia seguinte, logo de manhã, descobrir suaves e ternas marcas de caninos na nova capa.
Não, não foi nada disto.

Foi aquele dia em que percebi que aquele som, aquele que por vezes ouvíamos quando ainda tentávamos - debalde! - roubar mais uns minutos de sono, aquele som que não era bem igual ao raspar no arranhador, mas era tão parecido que, vá, se calhar era na pelúcia da plataforma do arranhador, não era, de facto, causado por unha no dito arranhador. Aquele som, que ainda hoje me persegue, me assombra, aquele réc! súbito, aquele som era um estertor agonizante do cortinado*.
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A sério, se eu não o matei nesse dia, não mato nunca.

Mas quando se porta bem (já disse?) é tão fofinho, tão querido. Ó.


*graçádeuz são cortinas duplas, e a mais grossinha, de seda, é forrada; Sir Unhaifas não atingiu o tecido. a mais translúcida, uma rede fininha que pelos vistos estava mesmo a pedi-las, nem a alma se aproveita. eu gostava mesmo daquele conjunto de cortinas. suspiros. choro. soluços.

14 comentários:

  1. Oh... tao lindooooooooooooooooo... Amo gatos, amo amo amo, e entao ve-los crescer assim e' tao bom. Essa fase das tropelias passa rapido, ficamos com tantas saudades depois. Andei anos com os cabos do aspirador e meia de duzia de candeeiros seguros por duck tape. E era ver estes cabos e estes pequenos ajustes 'as minhas coisas que me fazia chorar horas a fio depois de ele partir. Anyway...

    Sabes qual foi o meu momento Zen? Aquele em que descobri o amor total e completo? No dia em que cheguei a casa e nao o encontrei. Era estudante de doutoramento, vivia num T1 pequeno com muito poupa mobilia. Nao estava debaixo da cama, nem no armario debaixo do lavatorio ou dentro do forno (como ja tinha ficado la preso), nao estava em cima dos armarios da cozinha, nem atras da secretaria, as janelas estavam seguras, as portas fechadas, onde estaria o gajo? Toco nos vizinhos para confirmar se o virao no hall, tivesse ele aproveitado escapulir quando sai de casa. Nada. Volto para casa e desespero. Comeco a tirar almofadas do sofa, a desfazer o interior da base. Depois tirar o colchao da cama e desfazer o diva da cama, nada. Que fazer? Nao pode ser! Teria sido raptado? Era tao cobicado... Comeco a ligar para as protectoras de animais e veterinarios locais... e estava ja na quinta chamada, umas boas 2 horas depois de ter chegado a casa e a ter destruido, e em total panico, que de repente dou com os olhos na estante e naquela fatidica 5a prateleira a uns bons 2m de altura e daqueles 10 cms entre o topo dos livros e a prateleira seguinte vi 2 olhos verdes, especados muito estupefactos a olhar para mim. Em silencio. Camuflado pelas sombras e cor escura da estante e livros. A observar. O meu panico. Deitadinho e bem relaxado. AQUELE TEMPO TODO!

    Ja tinha olhado para aquela estante umas mil vezes. Estava carregadinha de livros e papers e tinha uns bons 3m. Inclusive tinha subido 'a cadeira para verificar o vaso que tinha em cima dela, porque ele conseguia ir la comer as folhinhas mais verdes.

    Apeteceu-me mesmo fazer um assado nesse dia!!


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    1. Epá, são também especialistas nessa treta, a Amelie enfiava-se em todo o lado, antes de sair de casa tinha sempre de me assegurar que não tinha ficado presa dentro de um armário, gaveta, seja o que for :P
      Agora tenho esse problema vezes 3, mas quanto a pô-los dentro de casa de manhã e à noitinha. Com a chegada do calor não querem sair da varanda e do terraço (ontem foi uma cena...)

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  2. Um guerrilheiro :D.

    Tenho de pensar numa forma de deixar a minha gatinha estar na varanda sem ter medo que ela se atire ao primeiro pombo que voe lá por perto. Começo a panicar e não consigo tê-la lá:/.

    Ah, gatinhos escondidos rindo na nossa cara enquanto os procuramos.. no comments.

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    1. Se tivesse uma varanda virada para a rua, ou num andar alto, também teria medo. Ainda assim, e porque tenho floreiras para onde eles começaram a saltar, fiz uma vedação com aqueles rolos de vime que comprei no Leroy Merlin. Tem uma altura de metro e meio, já evita que tentem o salto. Esta é uma opção mais económica, há quem ponha protecção em painéis de acrílico (deve ser carote, vê-se muito por causa das crianças), e há também a possibilidade das redes anti-queda. Esta é muito usada por quem tem crianças ou animais, mas não faço ideia do custo.

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    2. Também tinha pensado numa espécie de vedação, mas nem sabia se havia. Obrigada pelas dicas!

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    3. Na minha varanda não dá para por rede (bloqueava o acesso ao estendal, e a varanda liga à escada de salvação, tinha de se fazer uma jigajoga muito esquisita e pouco prática), e painéis de acrílico ficava horrível, pelo que até calhou ser uma sorte, esta opção é mais em conta.
      Eu comprei disto, ou semelhante (acho que até foi mais barato): http://www.leroymerlin.pt/Site/Produtos/Jardim/Vedacao-e-ocultacao/Ocultacao-e-cercados/15723393.aspx
      Mas também há o caniço, meias canas, e meias canas / canas em pvc. Uma pessoa até pode compor um espaço e ficar uma decoração gira. Nós já tínhamos posto noutra ponta e no portão de acesso à escada, para evitar que entrassem gatos (tive uns vizinhos com 5 e uma, UMA! caixa de areia, os bichos chegaram a ir aos meus vasos da varanda, e no pátio foi um inferno). O Fox trepa, o Max também já aprendeu, mas no lado oposto da varanda já não há perigo de fugas e queda no pátio de baixo (aconteceu uma vez, com o parvalhão do Fox, foi um susto)

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    4. É todo um mundo que eu desconhecia :D.

      Essa parece a mais adequada à minha varanda. Obrigada!

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    5. Epá, o Leroy Merlin, Aki e Ikea são a minha shopping therapy preferida :P

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  3. (chorei a rir, juro)
    Pronto, se excluir o facto do meu odiar a senhora da limpeza (e ela ter medo dele), tenho um gato santo. Santo.
    Posso dormir até às horas que conseguir, que o gajo só se levanta quando alguém acorda (e se queremos voltar a dormir, no problem, aninha-se e dorme mais um bocadinho). quando estamos à mesa, sobe para a cadeira mas nunca tenta subir para a mesa. As flores sobrevivem na boa. Nunca roeu um fio, nunca partiu nada (nada!). Não mia quando estamos fora de casa (3 miados qdo regressamos e mais 3 depois de nos irmos deitar). Não reclama se não tem comida (espera pacientemente que voltemos a encher a taça), não rouba comida. Um santo. Mas odeia a senhora da limpeza. E também é um fofo.
    O Max é maravilhoso :)

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    1. Oh, o Max adora, ama a senhora da limpeza! Deve estar convencido que ela vai lá SÓ para brincar com ele e fazer-lhe companhia (e ajuda-a imenso, claro, fazer a cama de lavado é uma aventura, mas a esfregona é a sua parte favorita). A Senhora também adora o Max, ela é totalmente cat-person (ela e os filhos, são pessoas que adoram bichos, queridos) por isso tudo na maior.
      À medida que cresce está a ficar mais calminho. Agora anda a descobrir o mundo fora da varanda, que é como quem diz, o pátio e as escadas de incêndio. E a travar conhecimento com os outros gatos do prédio - são 3. E acho que se apaixonou pela gatinha do andar de cima, que tem mais ou menos a mesma idade. Vai pela escada até à porta da marquise (só eu tenho varanda aberta), e fica que tempos a olhar para lá, à espera que ela apareça :) Adorbs.

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  4. É tão lindinho!!! Ai as beijocas que eu lhe dava nessa barriguinha gorda :-)
    As asneiradas fazem parte do encanto dos gatos. Muita sorte tens tu, os meus ricos cortinados de linho ganharam uns "bordados estranhos"... e o bicho ainda consegue desfazer as baínhas e deitar-se a dormir nelas...

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    1. Ah, linho! Deve ser um teciso amaldiçoado... Pois, estes são numa mistura de linho e seda, muito windos, a fazer uma rede que deixa entrar luz mas tapa a visibilidade. Claro que, sendo uma trama aberta, estava mesmo a pedir uma trepadela.
      Desfazer bainhas, graçádeuz, não lhe deu para isso. Mas já não digo nada.
      (é tão fofo, tão bajugo)

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  5. Essa primeira foto faz perdoar tudo <3

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