segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Les Misérables

Se ainda houver por aí alguém que ache mal a greve dos trabalhadores da Autoeuropa, e que ganhar mais €175 por mês compensa lindamente três semanas seguidas de trabalho em turno à escolha da entidade patronal, fins de semana incluídos, sem possibilidade de recusa do trabalhador, com duas folgas que não chegam a ser seguidas, e sem períodos de adaptação entre mudança de turnos, eu ofereço-me para, em privado, revelar quanto pagámos a um indivíduo que se deslocou à nossa barraca apalhaçada para, ontem, domingo, em vinte segundos - estou a ser generosa - abrir a porta que nós fechámos sem cuidar de retirar a chave que estava enfiada na fechadura de dentro.


32 comentários:

  1. Ui, estás a entrar campo minado, que isto de se receber mais do que o salário mínimo já é um privilégio, quem lá precisa de folgas juntas, fins de semana ou tempo com filhos? Mal habituados é o que estão.

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    1. Mal agradecidos, já têm um trabalhinho e tal, sim :P
      (epá, mal habituados são estes dos serviços de urgência, que um gajo fica ali refém e paga e não bufa. ainda estou zonza)

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    2. Para voltar a ficar com tv decente em casa, mamãe pagou 200 euros e teve que esperar o tempo que o homem que lá foi quis. Estamos juntas...

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    3. Antes não estivéssemos... Juro, na semana passada pus uma bateria nova no carro e a mão de obra ficou ali nos seis euros e picos, sem iva. O normal, achei eu, que foi um trabalho rápido. Afinal parece que não.
      O problema é que das chaves do areeiro ninguém atendia (e é um nº707, por isso já paguei e nem me servi). E o demais pessoal do "urgente" trabalha no método x de deslocação, orçamento feito pelo técnico à chegada. Portanto, total discricionaridade. Até podia cobrar uma tarifa especial porque estava um dia bonito, e pronto, né.

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  2. Pois, deixa dizer que aqui pelas França's, mesmo à côté de Paris, chamar o homem lá a casa para abrir a porta de entrada cujas chaves ficaram esquecidas em cima da mesa, custam a módica quantia, custaram a um colega do meu marido, de 800€ (sim oitocentos aerius), por sorte o seguro obrigatório para proprietários e inquilinos cobre perda de chave...

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    1. Ai mãezinha, se me pedissem isso tinha um treco!

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    2. Mas digamos que o que me saiu a brincadeira foi metade do que paguei a uns senhores de uma empresa que me foram lá a casa fazer uma série de arranjos. E digamos que ainda levaram umas duas horas, com material e ferramenta.

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    3. Oh pah, o homem chamou a porteira, a porteira chamou o condomínio, e estes chamaram a Express xpto. Felizmente aceitaram cheque e duas semanas para ele participar ao seguro...

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    4. Aqui não há seguro que me valha :/ Era necessário um "arrombamento", isto é, abertura do trinco. Não quis arriscar fazê-lo com um cartão porque ainda fazia asneira, e depois accionava o alarme e aí tinha dois problemas em vez de um (um banzé descomunal, que aquela sirene até acorda um morto; os gatos malucos; o prédio em sobressalto; e até à ligação da empresa de segurança, dar códigos e desligarem a coisa remotamente era uma feira)

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    5. Ah... E é mais caro por cá porque, se chamares empresa especializada, eles não tentam abrir a porta, eles tratam como perda de chave, alteração do canhão da fechadura e chaves novas

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  3. Espero que a greve continue e que nao se deixe passar esta em vao. Nem e' so pela solidariedade para com os trabalhadores da Autoeuropa, mas por todos os outros trabalhadores que irao ver os seus direitos reduzidos por decisao patronal unilateral, 'a custa do exemplo.

    muita forca ai!!

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    1. Idem aspas, AEnima. Afinal querem aumentar a produção, mas sem grandes custos - a malta a trabalhar sem fins-de-semana e compensação por isso, turnos contínuos sem transição, e tudo à bruta. Alterar as condições de trabalho acordadas tem um custo, tivessem pensado nisso. ou era só espremer, e os "de cima" a sacar prémios? Não pode ser.

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  4. É a velha história, em vez de defendermos quem está a exigir, queremos ser todos miseráveis. Eu entendo que (e tive esta discussão com) alguém que trabalhe numa grande cadeia de supermercados, a ganhar menos e com folgas rotativas também, não consiga entender dos que estes gajos se queixam. Mas não está certo e sobretudo não está certo que um patrão (disfarçado de bom patrão, são os piores) decida unilateralmente sobre a vida dos trabalhadores.

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    1. Anda-se a tentar puxar os outros para a sarjeta, para se ter companhia, em vez de tentar que ninguém fique na sarjeta.
      O que se passa nos hipermercados é atroz, e deviam eles juntar-se para reivindicar. Mas se calhar estão tão precários que nem se podem dar a esse luxo :/ De qualquer forma lutar, sempre. eu quero é que as pessoas tenham uma vida boa e digna.

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  5. Eu, na minha inocência, quando ouvi falar desta história pela primeira vez, pensei cá para com os meus botões: então, se há um grande aumento da produção para os próximos dois anos e é preciso aumentar os turnos, não seria razão para, sei lá, aumentar o n.º de trabalhadores?! Eu sei, às vezes ainda acredito no Pai Natal.

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    1. Oh Smelly, francamente, agora lá porque há mais serviço vai-se contratar mais gente? E até o podiam fazer, a contrato a termo, por se tratar de uma situação temporária? E ópois, diminui-se os lucros? E os prémios dos xores directores (vénia) que aquilo é gente que SÓ merece tudo de bom, e do melhor, que têm de pensar em coisas complicadas, como aumentar a produção em x mas com um custo de x - y?
      Tu é doida, melher? Não sabes que um trabalhador é uma despesa?

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    2. Izzie, antes de estar a gozar com a situaçao era importante ter-se informado melhor acerca da situaçao. Eles vao contratar mais pessoas e duplicar o numero de trabalhadores, mas mesmo assim nao é suficente para as necessidades de produçao. Ja vao ficar no maximo de ocupaçao da linha de produçao, por isso so com turnos conseguem aumentar ainda mais a produçao. Atençao que eu compreendo a greve, tem todo o direito de o fazer e nao aceitar as alteraçoes ao contrato. Mas tambem acho injusto que se diga que a administracao nao tentou todas as alternativas possiveis.

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    3. Ei.

      Primeiros, eu não gozei com a situação. Apenas acho que um aumento de €175 por mês não compensa a perda de fins de semana e obrigatoriedade de turnos.

      Segundo, ainda bem que vão contratar mais gente. Mas pelos vistos, não chega.

      Terceiro, e segundo entendo, a empresa comprometeu-se a entregar dois leitões assados por dia, mas só tem forno para um; então precisa de rentabilizar o forno, passando a tê-lo ligado e a funcionar 24 horas por dia. Ora o aumento de produção, nessas condições, pressupõe trabalhadores 24 horas; para isso, é preciso haver que queira; para haver quem queira, é preciso que a compensação seja aceite.
      Os trabalhadores não têm de se vergar a condições de compensação que, no seu entender, não compensam a perda de dias de descanso e outros direitos.
      No final, a responsabilidade por se terem comprometido a entregar dois leitões quando só tinham um forno, e pressuporem que havia pessoal para tomar conta do assado, é da administração. Afinal os corpos dirigentes e accionistas decerto têm algo a ganhar com esse aumento de produção; é porem em prática o tal trickle down de que tanto se ouve falar.

      E prefiro e assumo que prefiro ser injusta com uma administração do que com os trabalhadores. Sou shushialista, é uma chatice. E não, se não chegaram a um resultado satisfatório para todos, não tentaram todas as alternativas possíveis. Houve foi muita confiança, hein. Precisam de alguém como eu, lá. Sou espectacular em worst case scenarios, nunca deixo de ponderar o pior possível quando planeio trabalho ou defino objectivos.

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  6. Greve, que horror! Trabalhadores tirando férias, que horror! Toda a gente sabe que os bens caem do céu!

    E Sim, esses são os únicos freelancers que se safam devidamente, lolol.

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    1. Um horror, verdade. Qualquer dia até querem abastecer em lojas gourmet, que são para executivos - como diria o Manelinho.

      Lá está, como desabafámos entre nós, não estudasses. Com um curso de serralheiro ou canalizador um gajo ia mais longe, às tantas.

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    2. Não gozes com Manelinho, que é um empreendedor avant la lettre :D.

      E sem dúvida. Podem cobrar o que quiserem, trabalham as horas que desejam e não há recibos, lol.

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    3. Não gozo nada com o Manelinho! Eu adoro o Manelinho, um empreendedor que upa lá. A da marmelada psicadélica é exemplo que devia ser citado em manuais de gestão.

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    4. E o que não falta é marmelada psicodélica à venda hoje em dia...*cough,cough, Heidi Klum & Lidl*

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    5. É. O Lidl tem muita coisa fixe, mas a roupa não é uma delas :P
      (já nem falando que para vender àqueles preços, só com recurso a mão de obra semi-escrava, e materiais que aiaiai)

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    6. Uma comentadora da Pipoca afirmou que essas pessoas, nomeadamente crianças, têm é de agradecer pelo trabalho escravo. É não, não estou a gozar.

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    7. A sério? Prémio falta de noção. Que falta de empatia básica.

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    8. Uma vez, no trabalho, em conversa sobre as roupas que, muito provavelmente, seriam feitas por crianças, um colega também se saiu com algo como isso: era bom para eles porque não tinham outras perspetivas.

      Eu concordo com essa do "não estudasses". Se tivesse seguido a minha intenção de pequenina - ser mecânica - se calhar não tinha tido um trabalho temporário em que tinha funções de coordenação de projetos, imensas responsabilidades, trabalho a dar com um pau, merda para resolver que nunca mais acabava, a ganhar uns ótimos 5,38€ à hora.

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    9. 5,38... :/ pá, não pode ser, uma pessoa não consegue viver decentemente com isso (estou a pensar em pagar renda e tudo o mais), e não é adequado à função. Rico país, sim senhora.

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    10. Os valores dos salários andam todos à volta disto. Isto já nem chega a ser a geração 1000€... Enfim.

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    11. Parti do princípio que era valor bruto, mas mesmo líquido não é grande coisa. Chegava há uns anos, quando se começou a falar de mileuristas, já não chega.

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    12. E pensaste bem, era o valor bruto...

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    13. Pois. Pago mais à minha empregada. E digo isto sem nenhum desprimor, é um trabalho que prezo, e até pagaria mais se pudesse, mas não há direito. Uma pessoa que tem de tomar decisões e tem responsabilidade não devia ganhar menos que 10 por hora, e já não acho nada de especial. Se incluir horas extra. Com isenção, menos que 15 brutos é mau.

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