Não é que se tenham acabado as opiniões chatas, parvas, desagradáveis, exaltadas, quiçá despropositadas; nopes, continuo a ter. Mas muito anémicas, fraquinhas que dá dó, optam por se enrolar numa mantinha no sofá, enquanto dão vazão a um pacote de bolachinhas. Das boas. Com chipas de chocolate.
Não que me faltem trivialidades ou historietas enfadonhas; disso também temos, e sempre em demasia, que a minha vida é uma sinuosa vereda num bosque polvilhado das mais aborrecidas e repetidas espécies. Mas acabam a partilhar a mantinha c'as outras, ou não são minhas, só minhas, e não me cabe partilhar. Estas são muitas, aliás, e andam ali num frenesim louco, guinchando, rodopiando, na arrecadação onde as fecho a modos de conseguir um bocadinho de concentração para fazer aquilo que me dá a ganhar o pão.
Aborreço-me, portanto. Por vezes, numa tonta tentativa de alternância, maço-me, somente. Deixei de ter novelos de palavras para desfiar com a ponta dos dedos. Ou esfumam-se numa preguiça sem fim. Opto pela indolência de ficar encostadinha a uma parede, vendo as dos outros passar. Às vezes digo-lhes adeus, outras nem isso. Não tenho confiança com a maioria, e quase nenhumas me conhecem; não quero que me tomem pela tolinha do
E se calhar é aqui que está a coisa: isto gentrificou-se; a maltinha da minha criação mudou-se para subúrbios menos turistificados, e eu acabo por preferir reunir com quem conheci (também) aqui, mas se mudou, nesses outros bairros. Perde-se em diversidade, talvez, mas ganha-se em profundidade. É possível ter uma conversa com princípio meio e fim, seja ela dedicada a livros que sim senhor, séries/filmes que também, ou a forma correcta de cozinhar verduras (true story, e é um assunto mais fracturante que à primeira vista se possa imaginar). E ganha-se também em sossego.
Juro que de há uns tempos a esta parte isto tudo me parece aqueles bailes de província tão bem descritos por Jane Austen: reencontra-se velhas e boas amizades, põe-se conversa em dia, mas ainda assim há muito peralvilho e flausina a rondar, a insistir em se fazer notado, a interromper ou, ao menos, incomodar com a estridência da sua presença. E nem um Darcy para nos aguçar a vista. Nem um Wilde para nos espicaçar o neurónio. Tudo muito a armar, muito alta burguesia convencida que é nobreza, e depois lá vêm as manas enfadadas de Mr. Darcy escarnecer de todos como que mostrando o que é a verdadeira sociedade, aquela onde rodam, mas que apenas as atura não mercê dos seus encantos pessoais, mas da sua heráldica e rendimento. Quando uma pessoa dá por si já arredou dos abafados salões e está a apanhar um fresquinho na varanda, com os velhos conhecimentos do costume, mas ainda assim, irra!, não há maneira de os ditos outros espampanantes deixarem de passar, fazendo-se insistentemente notados, sem que alguém ali os queira notar. Ah, se ao menos desse para fechar a porta. Encosta-se, pronto, já está. Ou não, credo.
E o que fazer disto, não é? Que uma pessoa até pode estar momentaneamente calaceira, mas tal talvez derive mais de não saber o que fazer disto do que de propriamente falta de vontade de fazer. Assim me encontro, num mar de sargaços de tema. O que fazer disto.
Talvez destacar-me. Recortar-me. Reservar o que é reservado para onde seja apreciado ou, pelo menos, bem acolhido. Talvez espaçar. Talvez seleccionar. Talvez apreciar os silêncios. Os entretantos, Talvez optar por outro caminho, outra linha. Talvez tentar voltar a ter prazer com isto. Tentar outra vez, talvez falhar, mas falhar melhor. Vem aí um ano novo, é um marco como outro qualquer, e diz que se apresenta novinho em folha, por estrear. Cá estaremos.
Cá estaremos também... sem grandes promessas de um regresso às letras, que a vida tem sido irónica demais comigo nos últimos tempos, para eu a acompanhar com humor, mas mantenho-me fiel a velhos hábitos e passo frequentemente por aqui, ainda que de forma silenciosa.
ResponderEliminarAbracinho e votos de um bom ano de 2017.
Oh, Anna, há quanto tempo! Tu és da casa, podes sempre passar, sentar um bocadinho e contar novidades :) Espero que esteja tudo supimpa contigo, e 1017 seja um ano muito bom
Eliminarmas e depois, quem é que eu leio? anda tudo com a mesma pouca vontade. eu incluída.
ResponderEliminarTambém ano numa de atão quem é que eu leio? O pessoal muda-se, já só tenho meia dúzia, e tu também não escreves muito, hein?
EliminarIsto aqui anda paradito, mas não vai parar de todo, acho. Vou aproveitar para passar um pano no chão e uma tinta nas paredes ;)
Bom ano!
Feliz Ano Novo e nada de paragens, que só sobram vacas e vacos :/.
ResponderEliminarFeliz ano novo! Vacas e vacos? Ora, aqui não. Só se for pastando bucolicamente, com o ar feliz que prusidente cavaque lhes anunciou ;P
EliminarOra então bom ano, e como sabes, sou pelos salteados. :)
ResponderEliminarBom ano, bom ano!
Eliminar(aceito salteados, com reserva, mas apenas sem alho. no. no. no.)
Eu descasco as batatas que a Luna só confia em mim para isso...
EliminarDescascar batatas é uma tarefa nobre. Descascar batatas é uma tarefa essencial. É importante haver quem descasque batatas :D
Eliminarcá estarei também, pois sabe-me passar por aqui e ler o escreve e espero que continue para meu prazer, como acabei quando acabei de ler este texto.
ResponderEliminarUm bom ano
Bom ano, Misha! Cá estamos e continuamos, como a peste ;)
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