O mundo era capaz de ser um sítio mais bonito, se tivéssemos a capacidade de nos por no lugar do outro. Em vez de ter saídas como "ofendida com um piropo? eu já ouvi muito e não me abalei". Como aquelas que diziam às mulheres agredidas pelos maridos "alguma fizeste", "aguenta que eu também aguentei".
A semana passada tive uma discussão com uma amiga que me dizia que uma colega lá do trabalho dela tinha feito queixa aos recursos humanos da empresa de um colega por este passar a vida a mandar-lhe bocas e por as maozinhas na cintura e elogiar-lhe as mamas e o rabo e que lhe fazia não sei mais o quê. A minha amiga dizia: "coitado do fulano, ele não faz por mal, diz isso a todas, é feitio, não percebo porque é que ela se sente tão ofendidinha. Deve pensar que é mais do que as outras. Ainda vai fazer com que o homem seja despedido, coitado". Eu tentei explicar, tentei, tentei, tentei... mas cheguei a um ponto e calei-me. É que não vale a pena. Há anos trabalhava eu num bingo, houve um cliente que me apalpou e eu dei-lhe com uma bandeja na tromba. Fui despedida sem antes ter que ouvir da parte do diretor do bingo estas lindas e sábias palavras :"és uma mula, custava-te muito ser simpatica para o cliente? olha que ganhavas mais, ele tem ajudado muitas meninas..." eu tinha pouco mais de vinte anos. Passados tantos anos, há uma rapariga que tem coragem de fazer queixa aos recursos humanos por achar que está a ser desrespeitada no local de trabalho. E há uma colega que acha muito mal que os recursos humanos "percam tempo" com coisas destas. Longo caminho a percorrer... Dulce/Porto
Pá. Pá. Esse tipinho merece bem uma queixa, caneco! Coitada da moça. E se fosse "só" bocas sobre o corpo, nem metendo mãozinhas, já era um comportamento inadequado, desrespeitoso, e merecedor de censura. Fonix. Custava muito, no caso dela e no teu? Olha, por acaso até acho que custava, que a dignidade é cara p'ra burro.
Desculpa, só queria dizer mais uma coisa. Na altura uma das coisas que mais me doeu, foi o facto de ouvir da parte das minhas colegas frases como "olha, tem a mania que é fina, que é mais do que as outras, que é santa, and so on, and so on..." Isto foi há mais de 20 anos. E custa-me ver que hoje nada mudou: há uma rapariga que é desrespeitada no emprego e da parte das colegas ouve exatamente as mesmas bocas. Pá, isto revolta-me. Mete-me nojo. Dulce/Porto
Izzie, eu fui despedida e nem sequer me pagaram aquele mês. Fiquei na merda (desculpa, não há outra maneira de o dizer), havia dias que não tinha dinheiro nem para comprar um pão, foram os piores meses da minha vida. E ainda que soubesse que o tal fulano era rico (comendador, o filho da puta era comendador!) - e que montava apartamento e sustentava algumas meninas dando-lhes do bom e do melhor em troca de favores sexuais em exclusivo - pelo menos enquanto eram fresquinhas -, nunca me passou pela cabeça ser "simpática" com aquela besta. Só me arrependo de não ter feito queixa, mas na altura a minha prioridade era sobreviver. E é como dizes, a dignidade não tem preço, não tem, mesmo. Dulce/Porto
Dulce, mete-me muito nojo, tanto o comportamento desses gajos como de mulheres que, em vez de darem a MAIOR força a quem tem a coragem de se revoltar, ainda as tratam mal. E custa-me imenso saber que as coisas, no que assédio diz respeito, continuam na mesma. É quase impossível ganhar uma batalha dessas. Na empresa de mate houve um tipo, cargo de direcção, que foi despedido (com justa causa) na sequência de uma queixa de assédio. Mas acho que a queixa só teve seguimento porque o comportamento dele foi grave e deixou rasto (revenge porn - a uma que acabou um relacionamento com ele - no facebook, sim, era um cavalheiro). Mais vale tarde que nunca, mas parece que o sujeito já era porcalhão havia anos. Às bonitas era piropada e pior, às (que ele achava) feias era insulto e rebaixamento. Parece que havia uma que era tratada, à frente de quem fosse, por baleia e pior, e ninguém fazia nada. Pá, quando o homem me contou, pá. Acho que era despedida, mas o gajo não se ficava a rir. Cabrão.
Estamos limitados a uma certa área à volta do umbigo. Mesmo com wi-fi.
ResponderEliminarO mundo era capaz de ser um sítio mais bonito, se tivéssemos a capacidade de nos por no lugar do outro. Em vez de ter saídas como "ofendida com um piropo? eu já ouvi muito e não me abalei". Como aquelas que diziam às mulheres agredidas pelos maridos "alguma fizeste", "aguenta que eu também aguentei".
EliminarA semana passada tive uma discussão com uma amiga que me dizia que uma colega lá do trabalho dela tinha feito queixa aos recursos humanos da empresa de um colega por este passar a vida a mandar-lhe bocas e por as maozinhas na cintura e elogiar-lhe as mamas e o rabo e que lhe fazia não sei mais o quê.
ResponderEliminarA minha amiga dizia: "coitado do fulano, ele não faz por mal, diz isso a todas, é feitio, não percebo porque é que ela se sente tão ofendidinha. Deve pensar que é mais do que as outras. Ainda vai fazer com que o homem seja despedido, coitado".
Eu tentei explicar, tentei, tentei, tentei... mas cheguei a um ponto e calei-me. É que não vale a pena.
Há anos trabalhava eu num bingo, houve um cliente que me apalpou e eu dei-lhe com uma bandeja na tromba. Fui despedida sem antes ter que ouvir da parte do diretor do bingo estas lindas e sábias palavras :"és uma mula, custava-te muito ser simpatica para o cliente? olha que ganhavas mais, ele tem ajudado muitas meninas..." eu tinha pouco mais de vinte anos.
Passados tantos anos, há uma rapariga que tem coragem de fazer queixa aos recursos humanos por achar que está a ser desrespeitada no local de trabalho. E há uma colega que acha muito mal que os recursos humanos "percam tempo" com coisas destas.
Longo caminho a percorrer...
Dulce/Porto
Pá. Pá. Esse tipinho merece bem uma queixa, caneco! Coitada da moça. E se fosse "só" bocas sobre o corpo, nem metendo mãozinhas, já era um comportamento inadequado, desrespeitoso, e merecedor de censura. Fonix.
EliminarCustava muito, no caso dela e no teu? Olha, por acaso até acho que custava, que a dignidade é cara p'ra burro.
Desculpa, só queria dizer mais uma coisa. Na altura uma das coisas que mais me doeu, foi o facto de ouvir da parte das minhas colegas frases como "olha, tem a mania que é fina, que é mais do que as outras, que é santa, and so on, and so on..."
EliminarIsto foi há mais de 20 anos. E custa-me ver que hoje nada mudou: há uma rapariga que é desrespeitada no emprego e da parte das colegas ouve exatamente as mesmas bocas.
Pá, isto revolta-me. Mete-me nojo.
Dulce/Porto
Izzie, eu fui despedida e nem sequer me pagaram aquele mês. Fiquei na merda (desculpa, não há outra maneira de o dizer), havia dias que não tinha dinheiro nem para comprar um pão, foram os piores meses da minha vida. E ainda que soubesse que o tal fulano era rico (comendador, o filho da puta era comendador!) - e que montava apartamento e sustentava algumas meninas dando-lhes do bom e do melhor em troca de favores sexuais em exclusivo - pelo menos enquanto eram fresquinhas -, nunca me passou pela cabeça ser "simpática" com aquela besta. Só me arrependo de não ter feito queixa, mas na altura a minha prioridade era sobreviver.
ResponderEliminarE é como dizes, a dignidade não tem preço, não tem, mesmo.
Dulce/Porto
Dulce, mete-me muito nojo, tanto o comportamento desses gajos como de mulheres que, em vez de darem a MAIOR força a quem tem a coragem de se revoltar, ainda as tratam mal.
ResponderEliminarE custa-me imenso saber que as coisas, no que assédio diz respeito, continuam na mesma. É quase impossível ganhar uma batalha dessas. Na empresa de mate houve um tipo, cargo de direcção, que foi despedido (com justa causa) na sequência de uma queixa de assédio. Mas acho que a queixa só teve seguimento porque o comportamento dele foi grave e deixou rasto (revenge porn - a uma que acabou um relacionamento com ele - no facebook, sim, era um cavalheiro). Mais vale tarde que nunca, mas parece que o sujeito já era porcalhão havia anos. Às bonitas era piropada e pior, às (que ele achava) feias era insulto e rebaixamento. Parece que havia uma que era tratada, à frente de quem fosse, por baleia e pior, e ninguém fazia nada. Pá, quando o homem me contou, pá. Acho que era despedida, mas o gajo não se ficava a rir. Cabrão.