quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Gateway drug theory

Sempre achei que é melhor ler-se o Correio da Manhã que não ler nada; e que será melhor ler-se MRP ou JRS* que ler o CM. Ou nada. Um gajo tem de começar por alguma coisa, a esperança não morre e a evolução é possível. Mas também não tenho problemas em afirmar: é leitura de merda. É. E é porque há melhor, e não me venham cá com coisas que os gostos não se discutem (educam-se, mas pronto), isto não é uma questão simplesmente de gosto. Há melhor, ponto. Escreve-se, publica-se e lê-se muita merda. E não vem daí grande mal ao mundo. Acho. Para além do óbvio arboricídio. Eu, aliás, leio (e gosto de) muita merda. Mas ao menos sei que é merda, admito que é merda, e não ando por aí a fazer cavalo de batalha da qualidade de algumas das minhas leituras. O que chateia, digo, o que me chateia é haver quem leia muita merda e, porque lê, se dá ares de doutor (da mula ruça) por isso. Não há nada mais deprimente, bolas. É como não se gostar de Shakespeare - perfeitamente legítimo - mas defender que não presta - falta de noção. Não.


*esqueçam o Chagas Freitas: é melhor ler os rótulos do detergente, que ainda se aprende alguma coisa. nomeadamente, a não ingerir. obviamente, o CF não leu os rótulos dos detergentes.

14 comentários:

  1. chagas freitas nem oferecido, mas tenho sempre uns segundos de gargalhadas quando vejo um título novo. cada um melhor que o outro. honestamente se visse alguém amigo a ler, seria incapaz de criticar ou de dar a entender que acho aquilo abaixo de aborrecido. acho que cada um deve ler o que quiser sem dar cavaco a ninguém.

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    1. Se um amigo andasse a ler esse coiso, só dava opinião se ma pedisse. Mas eu tenho uma cara muito sacana, trai-me constantemente. A sério, não consigo disfarçar nadinha...

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    2. seja, eu também faço essa cara quando alguém diz que está a gostar muito do nicholas sparks, mas dizer claramente à pessoa "andas a ler merda" acho escusado. a verdade está sobrestimada. Já viste o invention of lying?

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    3. Ah, eu não digo, mas a minha cara é um bocadinho transparente, e às vezes temo que se perceba que não estou a dizer mas estou a pensar. Se uma pessoa me vem dizer que anda a ler o Nicolau Fagulhas e começa a defender que é material para nobel, aí já começo mesmo a revirar olhos.
      Já vi o filme, já. A ideia é bestial, é pena o filme ser ali rés-vés uma merda :D Agora a sério, achei um bom pitch, argumento ok, interpretações deixavam a desejar, e a realização podia ser melhor, ou seja, o Gervais estampa-se um bocadinho no formato. E sim, às vezes mentir é a coisa mais generosa que se pode fazer.

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    4. eu também achei que podia ser melhor, mas a ideia de base é muito boa.
      (bom, se a outra pessoa me quiser evangelizar para gostar do fagulhas, a coisa muda)

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  2. Não sendo suspeito de defender Chagas Freitas (ou MRP), acho sempre interessante a dualidade de critérios que se aplicam à literatura versus -- sei lá -- à musica. Isto é, há quem olhe de soslaio a literatura de massas, e gaste alegremente as massas nos concertos das bandas mais olvidáveis que passam pelo rectângulo que tão gentilmente nos acolhe (Clássica? Jazz? oh caretice, coisa de matusaléns...).

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    1. Touché, porque é absolutamente verdade. E faz-me lembrar uma discussão (acesa) que tive com o meu pai, nos anos inquietos da minha adolescência.
      Nem me atrevo a tocar na qualidade dos géneros clássico e jazz (embora nem consiga ouvir Wagner e deteste jazz, eu é mais blues). Mas como definir a qualidade de uma banda? Acho que só o tempo nos dirá quem são os olvidáveis e os que não são. Há bandas que ouvia há 20 anos e ainda ouço, e continuo a achar a música muito boa. Outros, que achava os maiores, cairam(-me) nos esquecimento.
      Mas depois há coisas verdadeiramente geniais, e apedrejem-me se quiserem, mas acho que os Beatles são o Mozart da pop.

      (eu não sou Matusalém, nem conhecedora por aí além, mas gosto tanto de uma musiquinha clássica...)

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  3. Completamente off-topic.

    Há umas semanas, a Izzie deixou-nos um link para que pudéssemos denunciar a publicidade abusiva.

    Dei o exemplo de um post da SMS, em que esta, tal qual pastora evangélica, exortava a que se comprasse um medicamento (homeopático). Algumas pessoas também disseram que iam denunciar, etc.

    Aqui está o resultado das nossa acção:

    http://coconafralda.sapo.pt/tive-cancro-e-estou-aqui-2-1822884#comentarios

    Estes momentos despertam a fascista em mim, só me falta a maquineta Go Pro.

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    1. Epá... pois. Usar histórias de pessoas que passaram pela luta contra o cancro para vender suplementos... enfim. E publicidade a medicamentos, sim. Percebo a revolta. Também me incomoda.

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  4. Eu já li de tudo. Li muita merda ao longo da minha vida de leitora. E também isso me ajudou a crescer um bocadinho enquanto leitora. Tenho alguns guilty pleasures literários e há alturas em que preciso mesmo de livros que me façam esquecer e não pensar muito (aí só me safo com o fantástico mas cada vez é mais difícil encontrar coisas boas) mas cada vez mais tento ler livros que me desafiem.

    E apesar de concordar contigo- é melhor ler maus livros que não ler de todo - fico sempre sem saber o que dizer quando me tentam convencer a ler livros que, vá, são maus. Acontece-me recorrentemente com o das 50 sombras. "tens que ler", "é tãaao bom" e eu com cara de estúpida a tentar não mostrar que nem sequer tenho a mínima curiosidade.
    Uma vez, em desespero de causa (a minha casa estava em obras e os livros estavam inacessíveis, excepto alguns volumes da enciclopédia) li um livros do Nicholas Sparks. Não foi memorável mas (talvez por estar mesmo desesperada por ler qualquer coisa) não foi tão mau pensava que seria.
    Mas acho que ainda tenho que ir espreitar um do Chagas Freitas para saber do que se está falar.

    Epá... Beatles :)

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    1. Começando pelo fim, esquece lá o Chagas, que tu até és uma rapariga que gosta de livros, e depois tens um ataque.

      E fantástico: é um género muito desgraçado, por cá. E também há de tudo, para todos os gostos. Agora já se traduz mais, mas em inglês é que é, uma maravilha, tanto para escolher. Dentro do género fantástico-cómico aconselho Terry Pratchet, que só tive o prazer de conhecer há pouco tempo e é tão bom.

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  5. Menina... nao sei a quem e' o cha, mas discordo quando dizes que e' melhor ler merda do que nada, porque e' preciso comecar por algum lado. A maioria das pessoas que le merda, dificilmente fazem o upgrade para coisa melhor. E um povo mal informado, ou enviesadamente informado, para mim, e' pior que um ignorante. O ignorante ainda obdece 'a lei das probabilidades para tomar a attitude certa... o cheio de minhocas na cabeca com doutrinas idiotas que enfardam como burros palha por jornais sem jornalistas, esses tem zero probabilidade de pensar/ agir correctamente.

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  6. Aenima, o chá não é para ninguém em particular. Mas eu sou uma lírica, e tenho essa esperança de que as pessoas evoluam, ó se tenho...

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