Considerando que uma pessoa já não consegue distinguir quem é utente e quem governa o manicómio, e isto quer a nível local quer internacional, vou, doravante, abster-me de tecer comentários à situação em curso, seja ela qual for. Não tenho estudos, não tenho ansiolíticos que cheguem, não tenho vinho.
De qualquer forma, e porque consumo de bens essenciais só indirectamente diz respeito à situação, quero deixar a minha indignação, o meu bufanço, por uma garrafa do mais normalzinho azeite me ter custado sete, sete, hã, sete euros e quarenta e nove, e outras havia mais caras, outras também mais baratas, as de marca branca, mas com azeite não se brinca e este dura-me mais de um ano (que é o intervalo com que se gasta uma garrafa lá em casa, óleo ainda dura mais) sem ficar rançoso, mas friso, é simplezinho, nada de cenas grumê ou azeitonas criadas a leite de bezerro albino, nã, azeite normalisco. Se bem me recordo, a última vez que comprei andava a passar dos quatro para os cinco euros, e olha lá. Ao menos a manteiga, que a isso sim dou avio, está a baixar para os valores pré guerra da Ucrânia. Mas não se pode. É um escândalo. E não vejo ninguém a fazer nada. Ao menos já há mon chérie à venda, e saquei em promoção no lidl, nem tudo é deprimente (já nem me lembro por que raios comprei o azeite, devo ter visto alguma receita que já me esqueci).
No campo do electrodoméstico, tendo-se reformado a minha rica empregada de quase 19 anos, e apenas tendo conseguido alguém por metade do tempo que ela fazia (e o que custou, entre súplicas a um deus que não acredito, uivos, inquirições vãs, lágrimas), rendi-me à evidência e adquiri um aspirador robot. Claro que antes de decidir queimei os fusíveis todos a pesquisar marcas, e gastei toda a capacidade emocional a angustiar-me com a escolha de um coiso com o tamanho de um prato de conduto que custa um piparote e com um piparote mal dado pode finar-se. A conselho amigo adquiri um robotrock, que sim senhora, e assim lá temos Rocky Balboa a por KO o cotão e poeirada entre passagens do aspirador a sério que, já agora, as minhas costas não permitem manusear. E a falar sozinho, que é todo um entretém, ó me mate, qué qu'ele tá a dizer?, e ele hã? e eu lá a ver se o rocky se enredou num fio, e ele, olha, estava parado no corredor a olhar para debaixo do móvel e eu virei-o, e eu 'tá bem. Todo um folclore doméstico, os gatos que o digam, três ignoram o bicho e põem-se ao fresco, o quarto, Mad Max, claro, segue-o de olhão aberto, escondido pelas ombreiras, e temo que seja o primeiro a perder o medo e a fazer-lhe uma emboscada. Luta à sujidade, sim, mas com supervisão, portanto, derivado do perigo felino.
Voltando à questão custo de vida e electrodoméstico, também eles caros comó raio, quando fui levantar o bicho à loja, que não me pagam para publicitar, e já merecia, o empregado lá me convenceu a uma extensão da garantia (eu cá conheço Mad Max, ok), e rematou, como num desabafo, que nunca tinha visto um aspirador tão caro. 'esculpa? Comássim? O moce está estacionado na caixa, mesmo em frente ao expositor da dyson, e o meu Rockyzinho é que é muito caro? Como se atreve? Às vezes tenho pena de tomar re-li-gio-sa-men-te a medicação, que (já) não me deixa soltar a Karen que há em mim. Pena. Não, depois do ralhete épico (e merecido) que dei a um velhote na fila da caixa do lidl, poupem-me a mais vergonhas. Mas isso do meu destrambelhamento metabólico, que me fazia perder a cabeça com um santo, fica para outro dia, que já estou outra vez cheia de fome e vou lanchar.