terça-feira, 14 de setembro de 2021

Ena, ena

Diz que ontem deixou de ser obrigatório andar na rua de máscara, mas eu cá tenho uma coisa em comum com os negacionistas, a saber, ninguém manda em mim. Deumalibre, além da delta já anda aí a mu, qualquer dia chega a época das constipações e gripes, deixa estar que estou bem. Além de que me favorece imenso: os óculos escuros já me tapavam metade da cara, agora posso dizer que sou a cinquentona mailinda de sempre que não há provas que refutem. 

Entretanto diz que abriu a estação de Arroios, e já vi na net todas as piadas possíveis sobre o tema. Até o Metro mostrou um nico de sentido de humor e passa nos painéis luminosos a mensagem "este comboio já pára em Arroios". Sim senhora, já há relatos que atestam que é verdade, mas outra coisa que tenho em comum com os negacionistas: só acredito fazendo a minha pesquisa.

Também parece que acabou o teletrabalho, e nota-se (muito) no trânsito. Outra oportunidade perdida para diminuir emissões, aumentar a qualidade de vida de inúmeros trabalhadores, reduzir despesas de transporte e alimentação. E eu, que comecei por detestar, acabei por abraçar algumas das vantagens; quando posso (pena é que posso pouco), continuo a trabalhar em casa. Olha, tenho outra coisa em comum com os negacionistas: ninguém diz o que eu faço.

De resto, nada. de. relevante.

Não fomos à Feira do Livro porque não preciso de mais papel por ler lá em casa (inclui os teus panfletos, Medina, pára, ok, não voto em ti), e ninguém me oferece um T5 forrado a estantes. E com jardim, já que estou a pedir. 

Queríamos muito ir ver o Dune ao cinema, porque ecrã gigante, mas se estreia na disner vemos em casa, porque pessoas.  

Vimos o Tenet e a-do-rei. Na altura que estreou vi imensas críticas negativas, que era pura megalomania, a armar aos cucos, impossível e irrealista, não fazia sentido. Sim, porque na vida real há imensa coisa a fazer sentido, actualmente; por onde começo, pela retirada dos 'maricanos do Afeganistão?, pela lei do aborto aprovada no Texas?, pelo facto de me mate estar a mandar cv há oito meses, até para ofertas abaixo das suas qualificações, e nem para uma entrevista o chamarem? É. E claro que é irrealista e impossível: chama-se ficção. A boa, reconfortante, alegre ficção. Se eu consigo escrever um texto coerente a explicar a história? Népia, mas desafio qualquer pessoa a explicar com clareza o Inception, o Interstellar, vá, o 2001 (todos bem bons, já agora) ou, se estiverem mesmo a sentir-se corajosos, a linha ideológica e pensamento político do Nuno Graciano.

E pronto. Vinha aqui só abrir uma nesguinha de uma janela, a ver se o tasco não ganha mofo, e acabo a deixar um testamento que faz favor. Há quem diga que isto dos blogs já acabou, é muito 2005, mas ainda é onde gosto de estar. O twitter (pelo menos o tuga) é um esgoto a céu aberto; o instagram uma novela de época, só guarda roupa, só adereços; o facebook é só intervalos para anúncios, e já não tenho idade para entrar no tik tok (nem faço questão). Aqui é ainda gosto de estar, embora a melhor vizinhança tenha emigrado. 

Há dias em que me vai faltando a palavra, ou a vontade de lhe dar corpo; há dias (muitos) em que não sei o que é e para que serve isto; há dias assim, dias de alma vaga; há dias assim assim, em que julgo que me encontro e me defino um bocadinho entre o que quero, me apetece e afinal consigo escrever. Há dias, pronto. Mas cá estamos vamos estando.

25 comentários:

  1. Que chatice a cena do teu marido...agora vou ter de ver o Tenet, está lá gravado há que tempos, o meu marido também gostou muito. Eu não posso ficar em teletrabalho porque aulas por Zoom são degradantes, mas este regresso aos escritórios é um absurdo. E as reuniões da função pública a regressar em força? Muito bom tudo.

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    1. Sãozinha, é uma senhora chatice. Ele está a pensar começar uma pós graduação em contratação pública (ei, vem aí dinheiro das europas), ainda lhe dá alguma ocupação. Já tirou a certificação como formador, mas como não tem experiência, kaput. E é assim em tudo, até para call centers pedem experiência.

      Aulas por zoom deve ser uma chatice, e aqui no trabalho também não se consegue evitar o presencial. Está a começar a apertar, e não tarda começam a chatear com a recuperação dos tempos de pandemia, uma maravilha

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  2. Eu, de volta às salas de pirralhos pequenos mañana, nem preciso de ver para crer, ou seja, antes de ver já sei: sou eu a entrar e as educadoras e auxiliares a puxar as máscaras para o sítio que até lá estiveram na papada, esse local de grande contágio Covid. Ah, e também gostei das "máscaras fortemente aconselhadas" nas salas de aula do primeiro ciclo - no ano passado o meu era um de três na sala a usar máscara, este ano rendi-me, só usa se se sentir com vontade, é o meu a proteger os outros e os outros a rirem-se, eu sei que está mal, mas caracinhas, se não querem, olha, paciência.
    Chatice é isso do teu marido - este país não está para ninguém!
    Tenho saudades dos blogues, que tenho, mas confesso que acabei por me habituar ao Facebook (escolhendo muito bem quem sigo, excepção feita a uns quantos familiares que tem de ser...) Devias tentar - mas de maneira a que eu soubesse quem és, também queria ler-te! Boa sorte ao marido, saudade das histórias da gataria

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    1. Aqui no trabalho continua a ser obrigatório máscara, e tem mesmo de ser. Muita gente de dentro e de fora a circular.
      Não sei se mudo para o face, lá tenho uma espécie de presença fantasma. Interajo pouco, e posto nada.

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  3. Continua que alguns por aqui continuam e gostam de te ler :)

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    1. Obrigada :) com o trabalho a apertar rapidamente não está fácil, mas quero mesmo retomar :)

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  4. Continua a vir cá que nós vimos cá ler-te!

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  5. Ei ei ei, volte sempre a arejar o tasco, titi Izzie! <3

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  6. Não sejas louca. Explicar o incepcion ainda vá, agora o Graciano!! Francamente
    :)
    Vem cá sp q a malta gosta de te ler
    Segunda volto a lx (após mtossss meses), e n sei se estou preparada...pior, n sei se tenho roupa, e o s.Pedro n está a ajudar...🙄

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    1. Ai o coisinho, vi um debate e fiquei banzada, não há explicação :D
      Isso da roupa, pois, eu ando a arejar coisas que estavam no armário há mais de um ano! Sempre que venho é toda bem vestidinha, é preciso arejar as farpelas

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    2. Nem é só o arejamento. Acho q o covid tb encolhe as roupas 🙄

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    3. Ah, sim, já ouvi falar nesse efeito secundário da covid :P (no primeiro confinamento perdi peso e volume, não me apetecia nada, nem comer. no segundo mantive, mas desde que comecei a voltar à rotina "normal" voltou tudo :D)

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  7. Que não lhe falte a palavra nunca, porque tal eu há quem goste de passar pelo tasco. Nem sempre se interage mas leva-se daqui sempre um presente que para mim pensar e dizer livremente é um presente que não devemos nunca dar por garantido.
    Boa sorte para o mate, não está fácil mesmo, apesar de não estar desempregada queria mudar de trabalho e tenho tido os mesmos resultados que ele.
    E eu até queria que ninguém mandasse no que eu faço, mas desconfio que não é bem assim ( apesar de dissimulado).

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    1. Obrigada, Manuela! Conforme o trabalho permita, vou passando.
      Boa sorte na procura de trabalho, não está mesmo fácil

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  8. Por favor não desista, quero saber noticias dos gatos :)

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    1. Ah, os gatos. Ando a ser uma péssima cat-mummy. Tenho esquecido o cabo para descarregar fotos, e ontem e hoje estão a ser dias um bocado cheios. Mas estará para breve ;)

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  9. Nada de abandonar isto! Gosto muito de cá vir :)

    (por acaso desde que a máscara deixou de ser obrigatória na rua, parece-me que há mais gente a usar)

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  10. Que e' isso da vizinhanca boa emigrar? Eu sou boa, vizinha sem abrigo, e ainda ca venho!

    A cena do desemprego faz-nos sentir tao inuteis. Tambem passei por isso em PT depois do meu doutoramento, e foi um periodo negro, longo, e humilhante. Vagas para o meu calibre eram para cunhas. Para coisas varios niveis abaixo, eu so tinha defeitos, conhecimento a mais, experiencia a menos, e ainda espezinhavam no fim. A melhor coisa que fiz foi mandar PT dar uma grande volta. Agora ja todos me acham cheia de qualidades e e'so' convites para isto e para aquilo. Quando me tiveram 'a mao, cuspiam-me. Muita forca para aguentar isso, e' preciso muita saude mental, que nunca sobra nestas alturas.

    Abracinho
    XX

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    1. AEnima, eu sei que vens, e muito gosto na tua companhia :)

      O desemprego é uma joça, e no caso dele vem de um longo período de mobbing, que não ajudou. Um dia fiz como a Elsa do Frozen e aconselhei-o a let it go. Mas, confesso, nunca pensei que fosse tão difícil, nem sequer uma coisinha mais provisória, nada. Ele anda deprimido, sente-se inútil, sem perspectivas. Custa muito vê-lo assim. Mas é preciso insistir, e tentar que não desista.
      Este país não é bom para ninguém.

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    2. Lembro de comentares, e sei bem o que e' passar por isso, pelo mobbing, e pelo desemprego. Para aguentar psicologicamente essa fase comecei a dar explicacoes ad hoc, amigos de amigos que estavam a precisar, ate de borla, para conseguir ter alguma distraccao occupacional, alguma coisa que me fizesse levantar da cama de manha. Ele nao conseguira arranjar qq coisa com que se ocupe, relativamente perto da area dele?

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    3. É complicado... vai iniciar para a semana uma pós graduação, com aulas zoom duas vezes por semana. Terá de estudar, o que já não é mau. Ocupa as manhãs a ver anúncios de emprego, o linkdin, e a responder. Dedicou-se ao modelismo para não avariar de todo. Mas não chega.

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