Há exactamente dez dias que ando a fazer a rodagem dos 50 - cinquenta -50 anos e, há que dizê-lo com frontalidade (referência que só gente da minha idade entende), que é um desapontamento, uma desilusão.
Em primeiro lugar, ainda não me ofereceram a reforma, quando é evidente que estou em excelentes condições para a aproveitar. Um desperdício! Querem que me reforme quando, aos setenta?, quando estiver saturada da vida em geral e da minha em particular? Fazer assim: reformo-me já, quando ainda tenho saúde, vontade (e pernas) para dar uns belos passeios, e prometo que volto aos setenta, vale? Aí até se junta o útil ao agradável, que assim com'assim passo dos dias sentada, a ouvir conversas de bélho caduco, e a resolver problemas de bélho exigente, chatinho, refilão, e cheio de razão.
Segundos, não, não noto diferença nenhuma. Parece que esta é pergunta obrigatória ao aniversariante da quinquagésima década. Nopes, tudo igual. Não é da idade, eu já não tinha paciência antes. Idem para as dores de costas, stress crónico, cabelo branco, ocasional vontade de bater em toda a gente ou praguejar violenta e audivelmente.
Terceiro, preciso de mais férias. Mas sempre precisei. Sou uma pessoa especial, com necessidades especiais: mais férias, maior quota de chocolate (diz que o cacau vai acabar em 20 anos, tenho de me precaver).
Quarto, nada. Tá-se.
Mais uma vez: é tudo igual. Mas podia não ser, ver ponto primeiro. Era um jeitão que me faziam.