No 12º ano tive um colega uber-mega-hiper palerma que passava a vida a contar, entre outras sem graça nenhuma, piadas racistas. Tal como as outras, não tinham graça nenhuma porque a) racistas; b) eram más, mesmo - se isso fosse possível - tirando o factor racismo.
Quando estes surtos piadistas me tinham como público involuntário, para além de não me rir e eventualmente revirar os olhos, fazia-lhe notar que já deixava de ser um traste racista e de estar sempre a debitar graçolas sobre o tema. A resposta era sempre a mesma: "é só uma piada!", seguindo-se o rame-rame do "não tens sentido de humor". Ter, tinha; e tenho, mas era e é um bocadinho, só um bocadinho mais sofisticado e exigente. Adiante.
Na altura ainda não estava em voga o argumento do "politicamente correcto que vai acabar por matar o humor" (chuif, que tragédia), vá lá. Mas já existia o argumento do "até tenho amigos que são", e se o gajo o estafava. É que na turma havia um, apenas um, colega negro, a quem o gajo vivia colado. Dizia que eram amigos (debatível: esse colega era um tipo extremamente sossegado, introvertido, até; suspeito que aturava o outro por educação, um maior sentido de sacrifício do que eu alguma vez tive, ou simples pressão, incapacidade de, minoria muito minorotária que era, se rebelar), e o amigo não levava a mal, sabia que ele estava só a brincar. Donde, não era racista, lá agora.
Era. Era sim senhora. Além de outras características muito pouco abonatórias, era um poltrão de um racista.
Passou-se isto ali em 1988, 1989 (sou um bocadicho antiga, pois é). Se nessa altura me dissessem que no ano da graça de 2020 este tipo de pessoas andaria por aí de cabeça erguida, a vomitar o mesmo tipo de dichotes com um ar de "quero, posso, e devo", como se não tivesse mal ou importância, como se fosse aceitável, próprio de uma pessoa decente, e que os demais deveriam tolerar sem ruído porque liberdade de expressão, porque é uma piada, porque sim, tinha cortado logo os pulsos e escusava-me à vergonha profunda que este estado de coisas me faz sentir.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
O mundo está perdido?
A resposta é "está sim senhora", pronto, poupei já o trabalhinho de ler o resto do post.
Para quem tenha paciência e queira saber, não, não cheguei a essa conclusão abrindo um jornal, assistindo a um noticiário, népia. Bastou uma ida ao lidl, muito a correr, para comprar pão (sou especialmente fã daquele de espelta, e de onde vínhamos calhava um lidl de caminho).
Ora lá estamos eu e me mate, com o cestinho com rodas (uma pessoa precisa sempre de mais alguma coisa), a chegar à zona do pão. Para quem não seja freguês, aquilo funciona muito modernamente (e civilizadamente) em modo self-service: o pão está em tabuleiros, separado por tipos; há uma geringonça com que puxamos / empurramos o pão que nos interssa para uma calha, e depois é ensacar. Ora sucede que, para o estimado cliente concluir esta operação, o supermercado tem à disposição a) sacos de papel para o pão, em dois tamanhos; b) luvinhas de plástico, como as da estação de seerviço, para pegar no pãozinho.
Dizia eu então que tínhamos acabado de chegar à zona de pão, estamos a observar as existências, e eu nem tenho tempo de soltar um "oohhhh já não há o de espelta", porque já estamos ambos embasbacados a olhar para o sujeito que sacava da dita calha um pão, manápulas nuas, e pronto, é mau mas o problema seria dele e da sua afeição às bactérias, mas vai daí olha para o pão, o pão não olha de volta mas ele não gostou decerto da cara daquele pão, acto contínuo joga-o outra vez para dentro do respetivo tabuleiro, tira outro, repito, de gânfias desluvadas, e ensaca-o.
Nem tivémos tempo de olhar um para o outro, porque o dito guna volta atrás, tira o pão do saco, joga-o para dentro do tabuleiro, e vai buscar um outro tipo de pão, no qual pega, insisto, em contacto directo patinha - pão.
Finalmente, os nossos olhares cruzaram-se. Estávamos os dois de boca entreaberta e olhinhos esbugalhados. Tu viste aquilo?, Vi, De repente já não me apetece pão, Iá, compramos lá ao pé de casa, meia volta volver.
Eu sei, eu sei que estes sistemas não sei quê, há sempre um porcão a lixar tudo, a gente nunca sabe quem lá passou, mas pá, ó pá, há anos freguesa, há anos a levar pão do lidl, mas no meu lidl nunca vi semelhante.
Cho-ca-da. Fé (a que restava) na humanidade: foi-se. Por mim a extinção está bem.
(capaz de apostar que na estação de serviço põe a luvinha, o jagunço)
Para quem tenha paciência e queira saber, não, não cheguei a essa conclusão abrindo um jornal, assistindo a um noticiário, népia. Bastou uma ida ao lidl, muito a correr, para comprar pão (sou especialmente fã daquele de espelta, e de onde vínhamos calhava um lidl de caminho).
Ora lá estamos eu e me mate, com o cestinho com rodas (uma pessoa precisa sempre de mais alguma coisa), a chegar à zona do pão. Para quem não seja freguês, aquilo funciona muito modernamente (e civilizadamente) em modo self-service: o pão está em tabuleiros, separado por tipos; há uma geringonça com que puxamos / empurramos o pão que nos interssa para uma calha, e depois é ensacar. Ora sucede que, para o estimado cliente concluir esta operação, o supermercado tem à disposição a) sacos de papel para o pão, em dois tamanhos; b) luvinhas de plástico, como as da estação de seerviço, para pegar no pãozinho.
Dizia eu então que tínhamos acabado de chegar à zona de pão, estamos a observar as existências, e eu nem tenho tempo de soltar um "oohhhh já não há o de espelta", porque já estamos ambos embasbacados a olhar para o sujeito que sacava da dita calha um pão, manápulas nuas, e pronto, é mau mas o problema seria dele e da sua afeição às bactérias, mas vai daí olha para o pão, o pão não olha de volta mas ele não gostou decerto da cara daquele pão, acto contínuo joga-o outra vez para dentro do respetivo tabuleiro, tira outro, repito, de gânfias desluvadas, e ensaca-o.
Nem tivémos tempo de olhar um para o outro, porque o dito guna volta atrás, tira o pão do saco, joga-o para dentro do tabuleiro, e vai buscar um outro tipo de pão, no qual pega, insisto, em contacto directo patinha - pão.
Finalmente, os nossos olhares cruzaram-se. Estávamos os dois de boca entreaberta e olhinhos esbugalhados. Tu viste aquilo?, Vi, De repente já não me apetece pão, Iá, compramos lá ao pé de casa, meia volta volver.
Eu sei, eu sei que estes sistemas não sei quê, há sempre um porcão a lixar tudo, a gente nunca sabe quem lá passou, mas pá, ó pá, há anos freguesa, há anos a levar pão do lidl, mas no meu lidl nunca vi semelhante.
Cho-ca-da. Fé (a que restava) na humanidade: foi-se. Por mim a extinção está bem.
(capaz de apostar que na estação de serviço põe a luvinha, o jagunço)
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
[who are you?]
"Blogs are a conversation no one wanted to have with you."
Disse a Michelle Wolf (num clip de apresentação de um stand up, que vi há atrasado).
E eu ri-me. Porque é verdade, andamos todos aqui a falar sozinhos, como os malucos. Volta e meia aparece alguém que faz a caridade de nos ouvir e, ou segue caminho, ou se mete na conversa. sinal de que se calhar não somos assim tão malucos, ou então somos mais do que pensamos. Uma convenção de malucos, as caixas de comentários. Ou de irredutíveis solitários. Não necessariamente sós, pode dar-se o caso de que os blogs sejam apenas o reduto dos temporariamente solitários, em periodos determinados. Ou dos temporariamente a tender para definitivamente sós.
Eu ri-me porque me identifiquei quase totalmente.
Para que me serve isto, afinal. Pergunto-me muitas vezes. E muitas vezes me respondi que era como a cova que o barbeiro do Príncipe das Orelhas de Burro cavava, e onde ia gritar um segredo impartilhável. A tal conversa que não podia ter com ninguém. Mas vai além disso: é mesmo a "conversa" que ninguém tem connosco, ou porque não quer, ou, numa perspectiva mais suave não pode. Não está para isso, na verdade.
Seja uma cova, a gaveta da tralha, um recurso de solitários, um blog serve para o que serve. Este (e outros anteriores) vêm-me servindo como o veículo para a conversa que não tenho com mais ninguém, essa é que é essa. Um blog é um óptimo refúgio para um introvertido que, por acaso, gosta (até) muito de conversa. Se calhar esta esgota, ou a espaços esmorece; é o que tem vindo a acontecer por este poiso. Não sei muito bem o que fazer a isto, e nisto. Sou a mesma e não sou, não sei bem o que me traz aqui, na época em que o blog se tornou obsoleto e o tio velhinho (e chato, e quiçá senil) dos podequéstes, tuítas, instagrãs. E eu tambem já não vou para nova, hein.
Enfim, pode ser muito 2008, fora de moda, gasto, muito visto, coisa de antigos, mas continuo a gostar disto. Mesmo sabendo que corro o risco de estar a falar para as paredes, tendo a notória percepção de que atualmente não tenho interesse nenhum, nem para mim, fartinha de me aturar, credo, e que nem sozinha (como os malucos) me apetece falar.
Mas isto um dia pode dar a volta. E me aprecie mais, a pontos de achar que tem algum propósito plantar um caixote da fruta no meio das internetes e daí botar um discurso que a ninguém, a não ser a mim, interessa. No entretanto, cá estamos.
Disse a Michelle Wolf (num clip de apresentação de um stand up, que vi há atrasado).
E eu ri-me. Porque é verdade, andamos todos aqui a falar sozinhos, como os malucos. Volta e meia aparece alguém que faz a caridade de nos ouvir e, ou segue caminho, ou se mete na conversa. sinal de que se calhar não somos assim tão malucos, ou então somos mais do que pensamos. Uma convenção de malucos, as caixas de comentários. Ou de irredutíveis solitários. Não necessariamente sós, pode dar-se o caso de que os blogs sejam apenas o reduto dos temporariamente solitários, em periodos determinados. Ou dos temporariamente a tender para definitivamente sós.
Eu ri-me porque me identifiquei quase totalmente.
Para que me serve isto, afinal. Pergunto-me muitas vezes. E muitas vezes me respondi que era como a cova que o barbeiro do Príncipe das Orelhas de Burro cavava, e onde ia gritar um segredo impartilhável. A tal conversa que não podia ter com ninguém. Mas vai além disso: é mesmo a "conversa" que ninguém tem connosco, ou porque não quer, ou, numa perspectiva mais suave não pode. Não está para isso, na verdade.
Seja uma cova, a gaveta da tralha, um recurso de solitários, um blog serve para o que serve. Este (e outros anteriores) vêm-me servindo como o veículo para a conversa que não tenho com mais ninguém, essa é que é essa. Um blog é um óptimo refúgio para um introvertido que, por acaso, gosta (até) muito de conversa. Se calhar esta esgota, ou a espaços esmorece; é o que tem vindo a acontecer por este poiso. Não sei muito bem o que fazer a isto, e nisto. Sou a mesma e não sou, não sei bem o que me traz aqui, na época em que o blog se tornou obsoleto e o tio velhinho (e chato, e quiçá senil) dos podequéstes, tuítas, instagrãs. E eu tambem já não vou para nova, hein.
Enfim, pode ser muito 2008, fora de moda, gasto, muito visto, coisa de antigos, mas continuo a gostar disto. Mesmo sabendo que corro o risco de estar a falar para as paredes, tendo a notória percepção de que atualmente não tenho interesse nenhum, nem para mim, fartinha de me aturar, credo, e que nem sozinha (como os malucos) me apetece falar.
Mas isto um dia pode dar a volta. E me aprecie mais, a pontos de achar que tem algum propósito plantar um caixote da fruta no meio das internetes e daí botar um discurso que a ninguém, a não ser a mim, interessa. No entretanto, cá estamos.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
[ motivação ]
Esta semana está a ser um bocadinho difícil a nível de pessoas, e por pessoas entenda-se fregueses.
(aquela cena de ouvir e pensar antes de falar, não se comportar como se tivesse o rei na barriga, ou pensar um bocadinho na merdunca que se fez antes de desatar a responsabilizar toooodos os outros ou, isso falhando, o estado - ei, nunca falha - é tão século passado, não é?)
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
Organizadíssima, concentradíssima
Sábado de manhã, enquanto tomava o pequeno almoço, fiz uma listinha das tarefas que tinha e ia mesmo realizar no fim de semana.
Em boa hora: agora já tenho a lista de tarefas feita para esta semana, o trabalho que eu poupei.
Em boa hora: agora já tenho a lista de tarefas feita para esta semana, o trabalho que eu poupei.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
Ah, a primeira vez!
A minha primeira vez a mascar uma pastilha de nicotina (como são profícuos em boas intenções, os primeiros dias do ano) e posso já adiantar que
- o prometido sabor a mentol acaba num instantinho;
- a boca sabe-me pior que se tivesse fumado um cigarro;
- estou li-gei-ra-men-te agoniada;
- e tenho a língua um nadica dormente.
Mas não fumei um cigarro.
E ainda bem, que só tenho dois e ainda pelo menos uma hora de trabalho.
[acho que vou antes experimentar os pensos de nicotina]
[alguém tem uso para 29 pastilhas de nicotina? novas! nunca usadas! estado impecável!]
- o prometido sabor a mentol acaba num instantinho;
- a boca sabe-me pior que se tivesse fumado um cigarro;
- estou li-gei-ra-men-te agoniada;
- e tenho a língua um nadica dormente.
Mas não fumei um cigarro.
E ainda bem, que só tenho dois e ainda pelo menos uma hora de trabalho.
[acho que vou antes experimentar os pensos de nicotina]
[alguém tem uso para 29 pastilhas de nicotina? novas! nunca usadas! estado impecável!]
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
[ahéééém]
Então (como diz que é de praxe) feliz ano novo para todos, muita saudinha e felicidades, etc e tudo de bom!,
(mas, e, especialmente para aquelas pessoas que no dia 1 - um -1 já estavam acordadas às seis e pouco a dar uma cápsula de omeprazol ao filho do demo mai'novo, a suportar os olhares de reprovação da mai'velha por não haver paparoca a noite toda, voltaram para a cama mas puseram o despertador para daí a meia hora, voltaram a levantar-se, encheram as malguinhas da prole felina faminta que asinha acorreu ao chamamento do granulado, e voltaram para a cama de onde arribaram daí a umas parcas horitas com uma inexplicável, surpreendente dor de cabeça. muita forcinha para essas pessoas no ano que se avizinha, e principalmente nos próximos dez dias de omeprazol que o peste mai'novo, que come tudo o que deve e não deve, parece não apreciar por aí além)
(mas, e, especialmente para aquelas pessoas que no dia 1 - um -1 já estavam acordadas às seis e pouco a dar uma cápsula de omeprazol ao filho do demo mai'novo, a suportar os olhares de reprovação da mai'velha por não haver paparoca a noite toda, voltaram para a cama mas puseram o despertador para daí a meia hora, voltaram a levantar-se, encheram as malguinhas da prole felina faminta que asinha acorreu ao chamamento do granulado, e voltaram para a cama de onde arribaram daí a umas parcas horitas com uma inexplicável, surpreendente dor de cabeça. muita forcinha para essas pessoas no ano que se avizinha, e principalmente nos próximos dez dias de omeprazol que o peste mai'novo, que come tudo o que deve e não deve, parece não apreciar por aí além)
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