terça-feira, 16 de outubro de 2018

Enjoy the silence




Curiosamente é quando mais tenho (teria?) para dizer que mais me calo, mais me contenho, embora não me reprima (não já), não me recalque. É como se numa revisão qualquer que já não recordo quando foi feita me tivesse sido instalado um travão de emergência, accionado automaticamente em caso de iminente oversharing. Já não era sem tempo, às tantas: uma certeza tenho, não era peça de origem.
Sim, eu sei que isto é muito ao arrepio daqueles actuais chavões de auto-ajuda, auto-conhecimento, auto-indulgência e crescimento do self e o raio que o parta, mas a cena de exibir ou, ao menos, assumir a nossa vulnerabilidade é uma treta do caraças. É preciso muito cuidado a quem se abre a porta, isso sim. Aprendi-o a duras penas, e depois de uns valentes vandalismos que me deixaram a alma toda desalinhada - alguns diriam que estava a pedi-las ou, mais gentilmente, que quem anda à chuva molha-se. Não concordo, mas não adianta debater a questão, o que importa é o que se faz depois do sucedido, de preferência começando logo a ponderar enquanto se arruma a casa. Se bem que, tal como a física - bof, mais vale admitir - a casinha interior nunca atingirá os padrões mínimos de organização. Desarrumada, até caótica, mas sujinha é que não, asseio primeiro que tudo.
É isso, é uma questão de asseio. E se muita da porcaria já nasce cá dentro, inevitavelmente, nem se sabe bem vinda de onde - e caneco, é trabalho para uma vida inteira, esta constante faxina interior - é escusado convidar ou proporcionar que entre mais cotão.
Por isso aqui estamos, entre o silêncio higiénico e o mero partilhar de banalidades. Até pode apetecer mais, mas travão.
Anyhoo, comprei uma saia travada azul muito bonita e elegante. Mesmo rés-vés a época do collant (yay! me likey!) que agora se inicia. E... Ficamos pela saia, então.


11 comentários:

  1. Percebo-te mais do que possas imaginar. O após pode ser tramado, não sei se conseguiria lidar com ele. Na dúvida, não arrisco. Toma lá um abracinho :)

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    1. Isto de ter um tasco de porta aberta é complicado de gerir, tem dias. Agora é um estabelecimento de café artesanal e scones, porta encostada e ar discreto ;)

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  2. "Por isso aqui estamos, entre o silêncio higiénico e o mero partilhar de banalidades." o mantra da minha vida no ano da Graça de 2018. Nunca uma frase me fez tanto sentido. Gosto de saias azuis

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    1. Vanda, como já algum sábio dizia, em boca fechada não entra mosca ;)

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  3. Podes sempre tornar alguns posts acessíveis só a certas pessoas :D.

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    1. Filipa, nem sei se isso é possível!
      Talvez um dia perca a cabeça e me "deslargue" por aí no palavrão. Se o bolsonaro ganhar, não respondo por mim.

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    2. Se o Bolsonaro ganhar, pela primeira vez, sou capaz de gritar coisas do tipo "o aeroporto está aberto 24h por dia", etc.

      Estou cá com uma raiva!

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    3. Acho que é caso para qualificar qualquer brasileiro que venha como refugiado político, sim. Vinde, vinde.

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    4. Atenção aí que todos os portugueses nacionalizados brasileiros que conheço votaram nessa besta e por mim Portugal fechava-lhe as portas para aprenderem que um voto não é brincadeira e ditadura não é só filme de Spielberg

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  4. Refiro-me aos que estão cá e votaram nele. A maioria :/

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    1. Ah, esses. Já que não apreciam as liberdades e direitos que por cá gozam, sim, por mim estão à vontadinha para ir gozar as maravilhas que aquele quadrúpede anuncia.

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