sábado, 1 de julho de 2017

Vivendo acima das minhas possibilidades *

Soube que aqui bem perto está à venda uma casa (de área e tipologia semelhante) por mais do dobro do que custou a minha.
Não sei se ache graça ou me choque, já estou por tudo.

*fosse hoje e não conseguiria comprar nada aqui à roda.

23 comentários:

  1. Só falta essa casa ser comprada por um tipo que a quer airbnizar.

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    1. A casa que é dava uma habitação muito janota, que dava (apesar de um passarinho que sabe tudo no bairro me ter afiançado que o prédio tem graves problemas de infiltrações), mas que família-tipo que procura aquele bairro tem condições?
      Quando para ali fui era um bairro com população envelhecida, e estava a começar a atrair pessoal de classe média a partir dos 30. Era mais em conta que muitos sítios, central q.b., enfim. Na altura muita gente torcia o nariz dada a proximidade do intendente, porque ai, os anjos, nhé. Agora é isto. Aqui há dias era um montão de americanos a fazer cagaçal, ontem um grupo de franceses à uma da manhã a passar na rua cantando alto e bom som. Nada contra o turismo, mas porra.

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    2. O problema não é tanto o turismo, mas a atitude de alguns turistas, os quais pensam que estão no recreio. Vai-se a um restaurante e ou os empregados acham muito estranho um português querer jantar fora, como a maioria dos turistas acha que tem prioridade na escolha das mesas. O Intendente mudou muito, mas, agora, parece que só quer saber de turistas.

      Apesar do problema das infiltrações, aposto que a casa vai para Air'n'b.

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    3. Sim, aumentou muito a percentagem de turistas malcriadões. É natural, afinal aumentando o turismo a quantidade de ralé que chega também é superior. Curiosamente os piores vêm de países onde há a fama de se portarem muito bem.

      Não me admiro muito que quem pegue na casa seja para a rentabilizar em alojamento local, que é a única forma de ter um retorno que compense os preços altíssimos. A renda teria de ser um absurdo para compensar, e o proprietário tem de acautelar as despesas de 28% de irs, os seguros, imi, condomínio. No alojamento local pode praticar preços que garantem retorno.
      O que me chateia é haver imensa gente a assobiar para o ar quando meia dúzia especula alegremente, e está a criar uma bolha que vai rebentar.

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  2. No sul do UK isso é o pão nosso... o meu apartamento vale hoje 90mil mais do que paguei por ele ha 2 anos (e sim, foi avaliado... devo ter que o por à venda). Mas isso não deixa de ser bom. As pessoas vão indo mais para fora ou comprando casas velhas e restaurando e sempre é um investimento melhor que ter o ££ no banco à mercê de ser gamado por famílias salgadas e assim.

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    1. O restauro e reabilitação têm sido a melhor faceta do aumento do turismo, verdade. Mas a possibilidade de grande retorno em alojamento local está a criar um efeito perverso em termos de avaliação imobiliária, e não só em casas já reabilitadas: anda a anunciar-se casas antigas em estado de origem por preços absurdos, que não têm correspondência com a realidade. Como o negócio de AL está completamente liberalizado, isto é, não há limites às licenças, a situação atinge foros de loucura, há ruas onde a oferta é tanta que um dia a coisa estoira. E aí, como é? Os promotores imobiliários e proprietários que vendem já encheram o bolso, mas os bancos que financiam, não se lembram da queda que houve há uma década?

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    2. Aqui não tem aumentado o turismo... isto é mesmo restaurar para vender a pessoas que vão lá morar. Como esta cidade tem sido constantemente votada uma das melhores para viver no UK, e a Universidade é uma das melhores do país e da Europa, tem atraído cada vez mais pessoas, jovens profissionais, estudantes, gente de Londres que está habituada a pagar 1 milhão por duas assoalhadas nos arredores e aqui pode comprar casa perto do centro por essa quantia.

      Ja viste o que é o preço das casas na minha rua aumentarem 30% em 2 anos? Há ruas aqui que aumentaram 40%. E no Brexit aí à porta e o UK em recessão de novo. É uma coisa maluca, e não, os bancos não estão minimamente preocupados, emprestam cada vez mais dinheiro.

      Não sei. Para já estão todos a ganhar. Já há outras zonas no UK que cada vez desvalorizam mais...

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    3. Um milhão por duas assoalhadas! Jesussenhor! Credo! Já me calei!
      Já me asseguraram que a minha casa valorizou uns 30%, desde que a comprei. Não é normal, para o nosso mercado.
      Ah, e no centro mais chique, toda a reabilitação urbana para habitação tem como target o segmento de luxo. Acho que contavam com os angolanos e os vistos gold, mas mesmo isto não estando a correr bem, parece que se vende.

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    4. Da próxima vez que fores a Londres repara na montra das imobiliárias. Dou-te um doce por cada apartamento que vejas por menos de £1m. E é tudo "guide price"... ou seja, a licitação começa aí e vai por lá acima.

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    5. A bem dizer, aqui na capital já se vendem T1 por meio milhão. É obsceno, mas lá tentar, tentam. Se conseguem é outra história.

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  3. Apesar de não ter dúvidas de que vai acontecer, espero que a bolha demore algum tempo a rebentar. Eu confesso que tenho mudado de opinião em relação a este assunto. Por um lado, o turismo é a melhor coisa que nos aconteceu. Permitiu que tivéssemos uma hipótese de respirar. Por outro lado, como sempre, fazemos asneiras atrás de asneiras e não pensamos no futuro garantindo um crescimento sustentável. A situação do imobiliário em lisboa é insustentável a longo prazo e apesar de estar a garantir a renovação em certos sítios também está a afastar os moradores da cidade. Os portugueses simplesmente não têm dinheiro para comprar/viver em lisboa. E quando a capacidade de entrada dos turistas em Portugal aumentar (seja pelos apts ou pelos portos) a coisa ainda vai piorar, ainda por cima o aumento da capacidade vai abranger principalmente o género de turista que faz disto um campo de diversão.

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    1. Patrícia, completamente de acordo! Sem tirar nem pôr.
      O problema é que, hoje em dia, sempre que alguém manifesta apreensão sobre a forma como está a ser gerido o mercado do turismo, é logo apelidado de velho do Restelo, atrasado ou (esta é a melhor) invejoso - porque, alegadamente, não está a ganhar dinheiro com o turismo, ergo, tem inveja de quem está. E não é nada disso. Se me desse para isso, também tratava da papelada, transformava a minha casa em alojamento local, ganhava dinheirinho bão e conseguia ir viver para um condomínio de luxo nos arredores. Se não o faço não é por inércia ou conformismo, é porque não quero. E não tenho inveja de quem o faz, claro.
      Mas.
      E aqui começa a minha lista de preocupações, que é logo encimada pela duvidosa sustentabilidade da forma como as coisas estão a ser geridas, numa lógica liberal de que o mercado se equilibra. E, de facto, lá se equilibrará, mas a que custo? É que entretanto muitos dos que seguiram para o el dorado, gastaram e abriram tascos/lojas para turista, compraram uma frota de tuk-tuk, ou investiram à grande (tantas vezes endividando-se) em AL, vão ficar na total merda. Antes, haverá uma baixa de preços - dada a enorme e totalmente insana oferta - que vai levar a que se atraia uma clientela, que, hum, e torna o negócio menos rentável. E depois bumba, cai o valor do imobiliário, há aumento de crédito vencido, e por aí fora.
      Não terem criado registo e quotas de tuk tuk foi umas aneira que qualquer um pode constatar dando uma voltinha na Baixa e vendo a quantidade deles parados, sem serviço. São mais que os turistas. Não haver regulação e quotas do AL, com vista a preservar a qualidade de vida dos habitantes, promovendo ainda aquilo que os turistas gostam quando o procuram - a autenticidade dos bairros - vai-se revelar uma opção desastrosa.
      Qualquer dia há outra desertificação em Lisboa (estava a ser contrariada na última década, e falo pela minha zona). E os gauleses resistentes que fiquem (eu!) ficam em estado de guerra com os turistas. Exemplo: o meu prédio é pequeno, e brevemente uma fracção será posta à venda. Nem imagino a que valores, mas decerto não os desejáveis para habitação permanente. E se tiver um vai-vem de turistas por baixo de mim, num prédio que não está preparado para isso (caraças!), juro que vai haver sarilho. Em Barcelona já há gente que põe cartazes à janela e nas varandas com frases de ordem como "aqui viven vecinos" e por aí fora. Eu farei o mesmo.

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    2. Os preços estão a tornar-se absurdos. Não se janta nem almoça fora por menos de 25 euros e é se quisermos deixar de fora um cocktail - um novo restaurante asiático que é puro colonial bait vende-os a 10-15 euros. E tiveram a lata de me servir camarões que mereciam a visita do Ljubomir.

      Os aumentos repugnantes das rendas, o preço das casas...não tarda, seremos Londres, com casas fantasmas e portugueses afastados para o cu-de-Judas.

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    3. Ah, Filipa, os preços da restauração, e inefável qualidade alimentar! A Baixa está cheia de turist traps, muitos a vender por "típicas" refeições pré-fabricadas :P
      E de cada vez que passo naquela abominação do pastel de bacalhau com queijo da serra, só me apetece dizer à turistada toda que fuja, aquilo é uma merdunca inventada para lhes sacar guito e arranjar uma indigestão.

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    4. (coitados, tenho mesmo pena dos turistas. ainda vão daqui a achar que a nossa gastronomia é aquilo que agora se vende. lembro-me de, há uns dez anos, um americano velhote, e muito querido, ter metido conversa connosco na paragem do eléctrico, e ter relatado, encantado, a magnífica refeição de frango assado e leite creme que tinha comido num tasco da Graça. tadinhos.)

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    5. Este foi o Boa Bao. Eu era a única portuguesa, os preços são indescritíveis, nomeadamente comparados com os do Ducktails (penso que eles fizeram um trocadilho, mas já não sei se o nome era mesmo Este, lol), que servem os mesmos pratos, embora a ementa seja menor.

      Há cocktails a 15 euros, é de morrer a rir.

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    6. Sim, 15 euritos por um coquetéle.... :P

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  4. Me mysefl and I, born and raised em Lisboa. Aos quarenta, rumei para os arrebaldes (que a pessoa para se manter culta e informada não pode ter dívidas à banca). Hoje já nos cinquenta mais IVA, não me queixo, bons amigos, perto da praia de toda uma infância, vista desafogada, paredes meias com património mundial, etc, etc.
    Ora sucede que continuo a fazer vidinha de Lisboa, rara é a semana que não vou à baixa/Martim Moniz/Chiado compras included e é com o coração corroído que vejo as alarvidades que vocês descrevem. Choca a falta de regulação/controlo das actividades turísticas, o desaparecimento de lojas que são uma referência e na restauração/gastronomia, credo, jesus, maria e josé, aí a coisa roça mesmo a desonestidade. Tirando o João da leguminosa, o Martinho da Arcada e um que não me recordo agora o nome, também na mesma rua, poucos são os que servem gastronomia portuguesa genuína.
    Recordo há alguns anos, em Barcelona, o exagero nas lojas de souvenirs e mercearias onde se vende de tudo (nada contra o comércio local) e deparo-me hoje com o mesmo na minha Lisboa. Triste muito triste 

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    1. A última vez que fui a Barcelona foi há 10 anos, tinha muito turismo mas não era de loucos. Contaram-me que agora está um descalabro. Em Praga tive uma antevisão do que poderá acontecer em Lisboa, e não gostei. Era lojas de souvenirs porta sim, porta sim; não se podia estar a passear sossegado sem levar com guias e vendedores; montanhas de gente no centro, um horror.
      Tenho medo do que aí virá, sinceramente. E sempre gostei da turistada, nunca respondi nem os tratei mal, mas isto está a atingir foros de loucura. Convinha gerir bem a coisa, ou matamos a galinha de ovos de ouro.

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  5. fulana da imobiliária para mim:
    «e paga a pronto?»

    pá, só peripécias, na procura de casa.

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    1. Pá. :/
      Respostas possíveis:
      - Eu não, mas o banco sim;
      - Tenho cara de traficante?
      - Não, ainda não me dedico à lavagem de dinheiro.

      Um dia conto-te uma sobre pagamentos a pronto e em cash que me veio ao conhecimento. Este país é uma choldra, e os agentes imobiliários ou não conhecem ou escolhem ignorar a lei de branqueamento de capitais (e é o sector onde mais há risco/incidência)

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  6. sim, eu fiquei com cara de 'pera aí que o pai já vai, quer dizer...
    mas não houve um agente imobiliário que não me fizesse a pergunta e não me tenha avisado que, não tenho o dinheiro, seria sistematicamente passada para trás. eventualmente, só com uma boa quantia de entrada, uma situação privilegiada no acesso ao empréstimo, e mesmo assim...

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    1. Lá está, o mercado está em alta graças a ter-se tornado apetecível para a bandidagem em geral, vistos gold e lavadeiros de dinheiro em particular.
      Compram as casas e estas ficam vazias. Ou então são investidores. Particulares, que vão para o raio que os parta.

      E eu quero é particulares, i.e., gente normal, a viver lá na zona. Tuuuuudo bem; quando Lisboa estiver de novo abandonada aos muito ricos (nos seus condomínios fechados) e indigentes (na rua ou em zonas degradadas), a malta fala.

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