quinta-feira, 4 de maio de 2017

Agora a granel

- A propósito de quem caiu em esparrelas sobre cetáceos, não se sintam mal: nos anos 90 havia panfletos a alertar, movimentos de pais preocupados a chagar toda a gente, e imensas almas a atestar que uma sinistra rede de malfeitores traficava LSD nas tatuagens temporárias (aquelas de colar com água) que saíam nos pacotes de batatas fritas. Relatos e relatos de criançada dróóóógada pelas ditas tatuagens, sempre filhos de um amigo de um amigo. Yeah, right. Como tive muitas vezes que explicar a uma mãe preocupada (a minha), e ainda influenciada por mitos urbanos de meliantes à porta de escolas a distribuir chupas com cenas, a droga é um negócio (ilícito, mas um negócio), não é caridade. Nunca nenhum traficante precisou de acções de marketing como distribuição de amostras grátis a não potenciais clientes (criançada é mais cromos e chocolates, com orçamento a condizer) que nem saberiam o que estavam a consumir.  

- Não consigo entender que algumas figuras ideologicamente conotadas com a esquerda prefiram correr o risco de eleger-se uma fascista, racista, homofóbica e xenófoba como presidente de uma grande potência europeia, ao invés de seguirem o magno conselho outrora dado Álvaro Cunhal, isto é, ingerir o anfíbio. É que, para mim, era na boa. Se não gostam de água, empurrem com vinho.

- O conceito de bizarro world não será conhecido de todos, mas é lá que me sinto cada vez que ouço, leio, vejo noticiários: de repente parece que o eixo do mal foi ocupado pelos ternos e bons aliados, e é a Alemanha a única ilha de sanidade democrática. Pelo menos até às próximas eleições, que já não aposto em nada como seguro.

- Continuo a gostar muito do argumento dos animal lovers de que não há cães perigosos, há donos incapazes ou irresponsáveis. Tão NRA. Não que não seja verdade, mas considerando que a (pro)criação de animais para venda é a selva que se sabe, não entendo a ingenuidade de quem acha, mesmo, mesmo, mesmo, que o assunto se deve focar nos tais donos incapazes. É um facto que há animais que, não sendo devidamente treinados ou manuseados, representam maior perigo. A lei relativa ao assunto até é bastante completa, o chato é que o cumprimento da lei não é fiscalizado. Qualquer idiota funcional pode comprar um canito a um criador de vão de escada, tudo sem registo, e portanto não cumprir as obrigações que a lei impõe. E é claro que este patetóide não acha anormal andar a passear o bicho sem trela nem açaime. E ai de quem reclame cautelas ao dono. Eu já o fiz, lição aprendida.

- Falando de NRA, não deixa de ser irónico o Charlton Heston ter protagonizado pelo menos duas distopias apocalípticas (Planet of the Apes, essa bonita metáfora do racismo; ou Soylent Green, essa linda narrativa sobre as virtudes de um capitalismo sem regras e sem humanismo), quando era a bestinha conservadora que era. Ocorreu-me outro dia, enquanto víamos o último. Dito isto, também se podia dizer coisas sobre ter protagonizado Ben Hur, que é um rico filme, que é. Há gente que tem a capacidade cognitiva ou a empatia de um calhau de calçada.

6 comentários:

  1. Não sei bem que história é essa da baleia azul, mas lá que passadores de droga as vezes davam umas borlas para angariar clientes, é verdade. Deram-me a mim. Estávamos sentados na areia à noite e achamos um tubinho de vitC efervescente cheio de coca, extasy, erva, e outras coisas que não conseguimos identificar, e nos apanhamos na areia. Éramos putos, estávamos de férias e devíamos ter cara de quem iria comprar mais a seguir. Até hj não percebo bem o porquê da "borla". Mas fizeram questão de mostrar a cara e andar à nossa volta a cirandar até encontrarmos o tal tubinho. Isto não aconteceu com um amigo de um amigo, mas comigo, de férias com um grupo de amigos, à noite numa praia famosa por haver passagem de droga.

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    1. Ah, mas aí já eram adolescentes, não? Adolescente é target. Até entendo umas borlas naquela de os fisgar. Mas mais depressa acreditava que era treta, uma partida para vos tramar... A coca é caríssima, ou estava toda cortada ou nem era coca.

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  2. Ai Izzie, cá dois beijinhos repenicados por ter identificado duas coisas que me andam a encanitar nos últimos tempos, quase tanto para me fazer escrever um post ou outro (mas agora já não preciso, hehe): A esquerda do 'é o meu ou não é nenhum' e as pessoas que nunca ouviram falar de seleção humana na criação das raças de cães.

    O que se está a ver em França com a relutância de alguns Insoumis de votarem no Macron foi exatamente o mesmo que se viu com a relutância dos Bernie Bros em votar na Hillary (mas espero que com resultados diferentes desta vez). Será que é assim tão difícil ver a diferença entre um narcisista racista e misógino sem qualificações + uma xenófoba racista e fascista, e dois candidatos de centro? Valha-me Deus, fossem as escolhas da vida tão fáceis assim.

    E sobre os cães, há cães perigosos sim, e podem ser identificados por certas raças porque os animais dessas raças foram selecionados especificamente para serem bons a morder, atacar, e terem fortes instintos de proteção/domínio. Qualquer historieta básica das raças de cães mostra isso, assim como mostra as características que se podem esperar de um exemplar de cada raça (é óbvio que #notalldogs, mas a prevalência estatística destes traços dentro das raças ditas perigosas será significativa, por isso legislar através de raças nos cães faz sentido. Não houve seleção natural para equilibrar os traços de doce-mau como acontece com os rafeiros, por exemplo.)

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    1. D.S., eu sou de esquerda, não me revejo nadinha no Macron (apesar de o candidato de esquerda ser assim tipo emplastro) mas não tinha qualquer dúvida. É que nos EUA resultou que foi uma maravilha, pois foi. Vê-se. Estive a ler a lista de pré-condições que excluem a obrigação de seguro de saúde (aquela que o gop está a conseguir passar!), e eu não teria direito, por exemplo. Ninguém da minha família, aliás. Digo mais: aos 18 já não teria direito, nem o meu irmão. Nice. Já nem falando do resto, da xenofobia, do racismo, bof.

      Nisso dos cães, e embora seja verdade que a) dono responsável corre menos risco de ver seu bicho a atacar alguém; b) até um poodle se pode passar e enfiar a mandíbula numa canela, a questão é que não podemos ignorar séculos de seleção nada natural, promovida pelo homem, com vista a apurar raças com determinadas características. A força da mandíbula do rott torna-o mais perigoso que um poodle. Ponto, não há discussão. E como pode acontecer eu parar a ver uma montra, ao meu lado para um dono semi-responsável com o rott à trela mas sem açaime, o bicho por alguma razão passa-se (não é difícil, basta que não goste de gatos, eu cheiro a gato) e ferra-me. É que ainda hoje ouvi um humorista - que como adoptou uma pitt bull meiga acha agora que também é especialista - a defender que o açaime irrita os bichinhos, impede-os de se defender de um ataque de outro cão, e isso torna-os mais agressivos porque frustração e tal. Jura? Exemplo supra da montra. A menos que o dono do rott tenha sempre uma distância de segurança de outras pessoas, é demasiado arriscado.

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  3. Eu acho que todos os cães se podem passar dos carretos, no entanto os cães considerados de raça perigosa serão à partida mais mortíferos, daí a lei ser mais rigorosa com estes, no entanto TODOS devem andar de trela (até para proteger o próprio cão, porque de vez em quando lá vai um que desaparece). Para mim não há motivo para que não se cumpra a lei e acho que se devia começar a penalizar a sério. Sendo uma animal lover myself, acho no entanto, que as pessoas tendem a humanizar demasiado os animais. É bonito quando é o nosso gatinho que está em casa e só nos arranha a nós, mas não é tão bonito quando é um cão num parque infantil que desfaz uma criança. Dizer que a culpa é sempre do dono, parece-me uma generalização. Um cão nunca se pode passar dos carretos? Nunca? Um animal nunca pode ser um animal, porque passámos a domesticá-lo? Acho isso de uma enorme arrogância e desprezo para com o lado animal que todos os animais têm. E nós também. E nós também nos passamos dos carretos. É como dizes, pode ser o cheiro a gato, pode ser o cheiro a qualquer outra coisa que naquele dia o faça atacar.

    (não me cheguei a organizar para fazer um post com isto, mas ando com isto engasgado!)

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    1. Exacto, todos os cães se podem passar dos carretos. TODOS. E por isso é tão essencial o uso de trela (para além de como dizes, e bem, prevenir fugas).
      O meu irmão era pequenito e teve um encontro infeliz com um cão, que nem posso definir como ataque. O bicho correu para ele e pôs-lhe as patas nos ombros; o meu irmão era mesmo pequeno e caiu debaixo do cão. O bicho estava a fazer "amizade", não queria atacar, mas a coisa podia ter acabado muito mal; felizmente foi só um susto, e dos grandes.
      Já crescidos, mas com sobrinha pequenina, estávamos no jardim da Estrela. Passeavam ali, sem trela, dois cães que, nas quatro patas, eram tão altos como a miúda. O meu irmão abordou os donos, pedindo que usassem a trela, por causa das crianças (e muitas, ali a brincar). Resposta o mais arrogante possível, nem imaginas. As pessoas nem sequer perdem tempo a imaginar o que pode acontecer. É egoísmo puro.

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