quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Alerta, acudam, aqui d'el rei

Acho que não estão a fazer reposição dos gelados no Lidl.

Quer dizer. Quer-se dizer. Com coisas destas a passar-se e não há uma equipa de reportagem à porta de cada estabelecimento, a entrevistar utentes desmoralizados, abatidos, desfeitos? Hein? Não há um um fórum TSF dedicado ao tema? Não há um levantamento, uma sublevação, uma revolta popular? 

Isto aqui, hã, isto aqui é um povo manso, é o que é. Já não bastou o silêncio total sobre o escândalo de termos passado um verão inteiro, sublinho INTEIRO sem reporem o sabor morango das caixas gelateli (já nem falo da nata e stracciatella, desaparecidas circa 2023, para nunca mais serem vistas), e agora os gelados de cone e/ou pauzinho são tão poucos que se vislumbra o fundo da arca. 

Qué lá isto? Ainda agarrados a conceitos longevos e caducos como a sazonalidade do produto? Aqui não neva, senhor Lídele. Aqui não é como nas Alemanhas, senhor Líder. A gente aqui é latinos, pah, a gente come gelados todo o ano, pah.

Lá a ver isso. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Not understanding the assignment

Enquanto estou aqui a lidar com a velha conhecida ansiedade paralisante, que volta e meia faz o favor de bater à porta, entrar sem cerimónia e instalar-se de perna traçada, impondo a sua presença, desconcentrando, impossibilitando um mínimo de produtividade que, sendo conseguido, desencorajaria outra velha visita, a prostituta da culpa, dou comigo a pensar que bom que é hoje em dia uma pessoa já poder falar nestas coisas da saúde mental sem problemas, porque há uma consciencialização transversal para a questão, e tal, uma maior aceitação, a 'ssoa já não é vista como disfuncional, a maluca, o problema, não, a pessoa tem um problema, ajudemos a 'ssoa a lidar e ultrapassar, a ter o espaço pessoal e o tempo que necessita, e coiso, todos muito uahhhh, só que não. Nope, não, népia, não é nada assim. Ou antes, é assim para umas coisas, para outras não. Case in point, como diria o Rodenberry, há aceitação e muito boa vontade para com alguns problemas, mas não com outros, depende se está na moda, se é fixe. Melhor dizendo: se padeces de distúrbio / problema / glitch que se enquadre no conceito (atualmente aceitável) de neurodivergência, tudo ok, o resto, iuc. E o que é isso da "neurodivergência", não sei bem. A sério, não sei. Acho que tem que ver com o funcionamento do cérebro, isto é, se é defeito de fabrico, ai, isto não soa nada woke, melhor dizendo, se vens assim de origem, se é um problema de hardware, tudo ok. Se o problema é do software, que passa a funcionar mal, ninguém quer saber. Ora, sendo encaradas como integrando este conceito, e portanto neurodivergentes, sem polémica: espectro do autismo, supé in, ADHD idem, disforias também (porque se convencionou que se trata de algo que nasce contigo, não vou discutir). Este catálogo é tão apetecível como explicação de uma depressão, ansiedade, ou simples quirkiness, que há quem se autodiagnostique. O "eu acho que estou no espectro" é algo que se banalizou. É normal ler / ouvir apreciações como "a ansiedade é da minha TOC / ADHD". Pelo contrário, não se ouve ninguém a desabafar que está a chocar uma psicose, desconfia que a sua depressão está ali a raiar a bipolaridade, ou sente-se um niquinho esquizofrénico. Embora se trate de diagnósticos que podem ser enquadrados na definição de neurodivergência. Mas não são cool. Fixe é ser neurodivergente as in diferentão, muito fora. Agora diferente do tipo ouvir vozes, achar que se aproxima o fim dos tempos, ver auras... neurotípico não é, de certeza, mas é o tipo de excentricidade "errada". "Ah, e como é que sabes que é assim?" Eu cá num xei nada. É o que anda na net. É o que se diz na net. É o que é acreditado na net. Não vamos estragar a vibe dos diferentões modernões. Mas eu, que sou antiga, garanto: esta ansiedade não interessa se é de origem. A depressão (que se vai seguir, pela culpa de não ter estado capaz de trabalhar em condições) também não sei se é defeito de fabrico. Não é relevante, socialmente, se é hardware ou software. Esta estranha maneira de viver não é uma excentricidade que use como uma medalha, de que me gabe, ou que careça de validação. Incomoda muito. Dá uma trabalheira a desmontar e a lidar. Não faz de mim melhor ou pior pessoa. Mas não justifica nem desculpa quando, por causa dela, ajo pior. E, muito menos, faz de mim uma coitada muito desgraçada, marcada por uma inevitabilidade comportamental indelevelmente gravada nos meus genes (?), tecidos (?), células (?), que os outros têm a obrigação de acomodar. Own it, deal with it. Sem desculpas. E, se preciso, tomem qualquer coisinha (prescrita por um profissional competente, claro). Ajuda e, às vezes, até resolve.  

terça-feira, 8 de outubro de 2024

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Pagando por todos os pecados, a pronto

Não posso deixar de achar graça, assim num tom ahahahahah-chuif, de humor quasi fatalista e até, vá, convenhamos, acusatório como em estavas a pedi-las, tu é que te ofereceste, ao facto de estar a trabalhar com millenials na nobre tarefa de passar conhecimento a garotada da geração z. Ouviram aqui, da boca de uma gen-X: poderá ser a definição mais aproximada de purgatório que já se me apresentou. Inferno não digo porque não sou uma me-me-me como os millenials ou uma mi-mi-mi como os gen-Z, e sei que há coisas bem piores a acontecer a muitos outros. 

Resumindo, e numa afirmação muito gen-X, está a ser interessante mas já me vai faltando a paciência - principalmente para os millenials, pasme-se.

(pondero, cada vez mais fortemente, uma reforma dedicada ao eremitismo)