Ai, ai, ai que vai fechar a Suiça! Ai, ai, ai que Lisboa perde mais um dos seus marcos! E?
Parece que sim, que há quem esteja ralado com esta ocorrência. Há até quem, decerto num exercício de rebuscada memória, fale no encerramento da "pastelaria" Suiça. Que o nome é esse, não contesto; mas pastelaria, ei, há limites para o saudosismo, o delírio, a saudade. Aquilo, senhores, e não é de ontem, era sim um pardieiro. Uma espelunca que faz favor. E atenção, nada contra espeluncas: alguns dos nossos mais tradicionais e queridos estabelecimentos vivem disso. Olha a Ginginha do Largo de São Domingos; olha aquela tasca na esquina da Rua da Misericórdia e o Camões, em que da montra se podia apreciar a bela sertã preta retinta com o molho de bifanas mais velho que eu, olha a outra na Praça do Chile (Ribeirão Preto?) com as sandes de ovo mai'rançosas de sempre. E quem não recorda com saudade a Ti'Alice em frente ao Frágil, onde se ia degustar o belo pontapé no genital feminino? Assumidamente e orgulhosamente espeluncas.
Mas a Suiça, uhuuu, com esplanadinha para a praça, empregadinhos fardados e de bandeja, mesinhas com toalha, a cobrar os tintins e cinco tostões por uma bica mal tirada, com um interior a precisar, já nem falo de uma remodelação profunda, ao menos uma limpeza esmerada, uma lixiviazinha ali não entrava há muito, aposto, a fazer fé no cheirete a sujo entranhado. A Suiça não era nada, e já há muitos anos, quanto mais ex libris da capital. Para além de uma tourist trap mal amanhada, para o pessoal nativo não servia mais que de ponto de encontro.
E não me entendam mal: se quiserem alguém para se zangar a valer com o lupanar em que se está a transformar a Baixa, contem comigo, que ia tendo um enfarte quando vi aquela disneylandia do enlatado, aquele tugúrio de neon enfeitado, que dá pelo nome de Mundo da Sardinha, ou lá o que é. Já nem falando das "lojas" de souvenires que abrem porta sim, porta sim, onde antes havia lojinhas bem catitas e fermosas. O coração até me falhou uns batimentos quando um dia topo com uma onde antes estava a Casa dos Carimbos, esta aqui:
Linda, linda, linda. Podiam ao menos ter deixado o letreiro, mas de certeza algum sortudo se afiambrou ao mesmo.
Está tudo a fechar, verdade. Nem vou entrar pelo assunto "lei do arrendamento", porque a minha opinião não é das mais simpáticas (não, os senhorios não são a santa casa da misericórdia e não, não têm obrigação de financiar comércio local ou tradicional, ou mesmo habitação, a preços que mal cobrem custos com IMI e seguros). É o que é, não é de hoje, é verdade que o assunto turismo está a ser muito mal gerido. Nada de novo. A habitual nacional-inoperância.
Mas depois, depois lembro-me daquela vez em que entrei na tal Casa dos Carimbos, que estava de porta aberta e balcão descerrado; vejo a senhora atrás do dito e lanço um "olhe, podia dizer-me o pre..." e logo recebo de volta um rosnado de "estamos fechados para almoço!". Ah, pronto. Sim senhora. Se me diz assim tão gentilmente, então volto depois - não voltei.
Semelhante aos semblantes generosos, sorridentes, hospitaleiros dos queridos anfitriões que nos atendiam na Suiça. E a Confeitaria Nacional, na altura do Natal? Credo, uma pessoa faz-se religiosa enquanto aguarda o Bolo Rei, que só uns valentes ai-jesus nos aliviam, enquanto assistimos ao bailado lento das senhoras atrás do balcão, algumas até perdidas a olhar para o infinito, decerto ocupadas a matutar nos grandes segredos do universo.
E a gentileza, prontidão, solicitude com que somos atendidos em alguns dos (aliás lindos, lindos) estabelecimentos de retrosaria na Rua da Conceição? Não devem ter ouvido falar da feroz e eficaz concorrência da Retrosaria Zora, preços mais em conta, stocks gigantes, sempre alguma funcionária pronta a atender, e por acaso em locais com estacionamento grátis? E nem me recordem a minha última excursão à Baixa por via de lãs, credo, Brancal, Serranofil, antes encomendar na net, ou, fazendo de phyna, gastar mais no ECI.
Verdade, verdade, há muitos doutores com pressa em desligar a máquina; mas a crua realidade é que o comércio antigo e tradicional da Baixa já há muito que estava acamado, algaliado, agonizando apesar dos cuidados paliativos. Morre de velho, de caduco. É triste, é. Há alternativas mais frescas, mais apelativas, mais simpáticas, mais em conta. Mas, mesmo a receber a extrema unção, aqueles pobres anciãos insistem-se vítimas dos tempos, queixam-se de que ninguém os ampara, ninguém lhes dá a mão, e juram que morrem por abandono e descaso.
'Tá bem, abelha. Quem não vos conheça, adiante.
sexta-feira, 29 de junho de 2018
quinta-feira, 28 de junho de 2018
It’s my party and I cry if I want to
Faz agora um ano que estava a entrar nos 46 (e a trabalhar, como de costume, embora não afincada ou devotamente) quando recebi o telefonema que já temia mas esperava não chegar a acontecer. Pela enésima vez em quatro anos que já lá vão entrei em modo bombeiro, mas desta vez cm máquina de reanimação, para além da agulheta, escada magirus, e caixa de primeiros socorros. Desta vez era mesmo a sério. Tal como das outras, mas isto do fundo do poço é uma coisa muito gira, quando se pensa ter lá chegado de repente abre-se um alçapão e lá vamos nós outra vez. Isto não é uma ladainha, um queixume de buuuu, estragaram-me os anosssss, calhou lembrar. Este ano não houve crise, embora o novo rock bottom possa estar sempre ao virar da esquina. Não vamos agoirar; mas é o que é. Se há um, dois, três, quatro anos me garantissem que se pode viver assim, eu ficaria pasma. Qual quê! Nunca! Não pode ser! Ou melhora ou rebenta! Mais: ou resolve ou coiso. Não é assim que funciona, ou não é assim que funcionará para mim. É o que é e eu sou o que sou: não arredo. No retreat, no surrender. Não é sempre fácil, mas torna-se mais gerível. E prova disso é que cá estamos, a entrar nos 47 firme e hirta, depois de um ano do caracinhas, do caralho, vá, a bater bolas com não sei quantos Federer (é assim que o tipo se chama?) e a apanhar com muitas em cheio na cara. Auch. Ainda que. Porque. Já esteja ali a uns 60, 70% grisalha, debaixo da tinta; as articulações não me deixem esquecer as muitas horas de cu sentado e computador; o estômago se manifeste cada vez mais caprichoso; as vitaminas tenham passado de suplemento a constante; já tenha de levar uns fideputa de uns ólicos na mala para conseguir ler cenas pucaninas que se me atravessem no caminho (mentira, esqueço-me propositadamente dos óculos e finjo que estou a ver lindamente, embora de bracinho esticado). Mas. Todavia. No entanto. Ainda consigo estudar e ter pica a aprender coisas novas; ainda me sinto a campeã do universo quando deslindo o enigma, encontro a saída do labirinto, coloco a última peça do puzzle; ainda fico com o friozinho na barriga porque vou ter de enfrentar aquele touro muito, mas muito grande e cornudo, e macacos me mordam se o cabrão percebe que estou aos gritos de pavor por dentro; ainda passo demasiado tempo a uivar à lua a cada nova tarefa hercúlea que me caia no colo, ainda que já comece a acreditar que, bom, enfim, talvez consiga - e acabo por conseguir sempre, porra, porque sim, mesmo com o grilinho irritante constantemente a bichanar-me ao ouvido que me meti a besta, way over your head, vais-te espalhar ao comprido e toda a gente a ver, vão descobrir-te a careca de incompetente, inapta, burra, incapaz e pôr-te na rua, nua, e ao frio e à chuva. No retreat, no surrender. Em nada, por nada, nunca, foda-se, nunca. Vamos indo. Vamos.
quarta-feira, 27 de junho de 2018
Preciso mesmo de (futilmente) falar disto
Não faltam, decerto, assuntos fracturantes. Ui, é só escolher. Eu escolho não abordar nenhum, porque já bem me basta saber que existem, e andar consumidinha com eles. Escolho, portanto, fazer um exercício umbiguista, levantar uma poeirinha sobre um assunto mais que banal, para lá de corriqueiro. Também tenho direito ao alheamento. Vamos a isso. Cá vai. Preparados para a mais inútil e inconsequente polémica de sempre? Jasus, aos abrigos. Vou atirar, ainda estão a tempo de ir ler o NYT, o Guardian, ou outra coisa mais elevada. Eu avisei.
(ahém)
Por que raios é que existe este estigma social de que senhoras ou meninas têm de envergar vestido ou saia em casamentos? Porquê, porquê, porquê?!??
Digo já: sou contra. Não porque odeie saias ou vestidos, tenho até vários, mas tendo de me definir em termos de vestuário, eu é mais calças. Ele há dias em que me apetece perna ao léu, ele há dias - mais - em que não me apetece. É uma questão de feitio do dia, de vento, de hormonas, não sei; é o que é.
Sucede que tenho um evento matrimonial no próximo fim-de-semana. De início não me preocupei muito com a farpela, sapatos e carteira já tenho - graçádeuz neste particular nunca tenho grandes dificuldades -, vestidos também há, que s'a lixe. Mas depois pus-me a pensar bem no recheio do roupeiro: os meus vestidinhos são, quase todos, em preto predominante. Chato. Já violei esta regra de não-usarás-preto-em-casamentos mas, desta vez, pronto, chamem-me conformista, não. Há duas outras hipóteses mas - surpresa! - são mais uma vez em preto e... branco, este predominante. Antes que se pergunte: não, não há limite para o número de vestidos em preto e branco que se pode ter, mostrem-me a lei. Há um outro exemplar em que entre o preto e branco se intromete outra corzita, mas está muito usado, e nota-se. E depois há um em beringela, que, coiso, é muito escuro? Bof.
Depois do mood não-te-rales-tenho-lá-tempo-para-me-chatear-com-isto, segunda-feira caiu o pânico de última hora e comecei a atacar lojas (net já não dá tempo, e nunca sei qual é o meu número). Experimentei uma resma, e senti-me sempre a Miss Matrafona 2018. Revi a estratégia: saias. Saias, blusa bonita, feito. Não há saias. Melhor, não há saias de que goste: simples, que possa voltar a usar, pelo joelho. E as que tenho são mesmo muito... casuais. Nos entretantos, em calhando, topei com umas calças mêmo giras. Mêmo. Com bolas, a fazer um padrão muito retro, parece mosaico hidráulico. E, surpresa!, em preto e branco. Sou uma originalona, eu sei. Vão ficar giríssimas com uma blusa preta, ou outra branca, que já tenho. Sapatos e carteira, vide supra. Baton vermelhão, eye liner, uns brincos (o problema é escolher), e sou eu. Sou eu como muitas vezes venho trabalhar, excepto o baton vermelho e carteira pucanina. Mas sou eu.
E vou ser só eu, de certeza, assim ataviada.
Entre o ser eu, e o ser só eu, a minha frágil personalidade neurótica balança.
Ainda tenho até sexta. Não tenho é tempo, mas não há-de ser nada.
(adoro as meretrizes das calças, fonix)
(ahém)
Por que raios é que existe este estigma social de que senhoras ou meninas têm de envergar vestido ou saia em casamentos? Porquê, porquê, porquê?!??
Digo já: sou contra. Não porque odeie saias ou vestidos, tenho até vários, mas tendo de me definir em termos de vestuário, eu é mais calças. Ele há dias em que me apetece perna ao léu, ele há dias - mais - em que não me apetece. É uma questão de feitio do dia, de vento, de hormonas, não sei; é o que é.
Sucede que tenho um evento matrimonial no próximo fim-de-semana. De início não me preocupei muito com a farpela, sapatos e carteira já tenho - graçádeuz neste particular nunca tenho grandes dificuldades -, vestidos também há, que s'a lixe. Mas depois pus-me a pensar bem no recheio do roupeiro: os meus vestidinhos são, quase todos, em preto predominante. Chato. Já violei esta regra de não-usarás-preto-em-casamentos mas, desta vez, pronto, chamem-me conformista, não. Há duas outras hipóteses mas - surpresa! - são mais uma vez em preto e... branco, este predominante. Antes que se pergunte: não, não há limite para o número de vestidos em preto e branco que se pode ter, mostrem-me a lei. Há um outro exemplar em que entre o preto e branco se intromete outra corzita, mas está muito usado, e nota-se. E depois há um em beringela, que, coiso, é muito escuro? Bof.
Depois do mood não-te-rales-tenho-lá-tempo-para-me-chatear-com-isto, segunda-feira caiu o pânico de última hora e comecei a atacar lojas (net já não dá tempo, e nunca sei qual é o meu número). Experimentei uma resma, e senti-me sempre a Miss Matrafona 2018. Revi a estratégia: saias. Saias, blusa bonita, feito. Não há saias. Melhor, não há saias de que goste: simples, que possa voltar a usar, pelo joelho. E as que tenho são mesmo muito... casuais. Nos entretantos, em calhando, topei com umas calças mêmo giras. Mêmo. Com bolas, a fazer um padrão muito retro, parece mosaico hidráulico. E, surpresa!, em preto e branco. Sou uma originalona, eu sei. Vão ficar giríssimas com uma blusa preta, ou outra branca, que já tenho. Sapatos e carteira, vide supra. Baton vermelhão, eye liner, uns brincos (o problema é escolher), e sou eu. Sou eu como muitas vezes venho trabalhar, excepto o baton vermelho e carteira pucanina. Mas sou eu.
E vou ser só eu, de certeza, assim ataviada.
Entre o ser eu, e o ser só eu, a minha frágil personalidade neurótica balança.
Ainda tenho até sexta. Não tenho é tempo, mas não há-de ser nada.
(adoro as meretrizes das calças, fonix)
sexta-feira, 22 de junho de 2018
quinta-feira, 21 de junho de 2018
Resumindo
Tenho poucas certezas na vida, mas uma delas é que se os homens menstruassem de certezinha que tinham direito a pelo menos duas faltas justificadas por mês.
[Não tá fácil, esta semana. Por norma são dois dias de incapacidade parcial, menor ou maior, mas este mês já vai em quatro dias muito mauzinhos. Mesmo com analgésico. Sim, sim, eu devia ir ao médico. Ou não. Depois de mais de trinta anos a ver desvalorizado este "incómodo", uma pessoa dispensa gastar quase uma centena para, de novo, lhe ser explicado que é mesmo assim, suspiro. O chocolate fica mais em conta e ao menos consola. E se engorda, tal como as merdas hormonais que volta e meia gostariam que eu experimentasse, ao menos fá-lo de uma forma deliciosa.]
sexta-feira, 15 de junho de 2018
[la-di-da]
[e hoje é um desses dias em que bem apetecia, cá por coisas e derivado de irritações da minha vida, e acresce até que às tantas calhava bem, afinal já tenho raízes, ó, e isto a pente zero, pronto, quatro, ficava tudo no mesmo tom e amanhã já não tinha de ir gramar duas horinhas de químicos a carcomer-me o escalpe, enquanto uma pessoa tenta ler aquele livro de letras grandes que levou, aquele que dispensa a acrescida miséria do óculo de presbiopia ao já maldito ritual corrector de grisalhia, ler, dizia eu, com banda sonora de secador e tesoura, não sei se já contei daquela vez que estava tão embrenhada que alcei do indicador e cocei mesmo a cabeça, e ainda que limpando logo fiquei com um indicador de mecânico auto que upa upa, enfim, isto anda tudo a correr cá d'uma maneira, era máquina zero e guarda-chuvada no primeiro que me aparecesse, e ai de quem dissesse ai c'a gaja 'tá maluca. sabedes lá da minha vida.]
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Como perder duas horas e dezassete minutos
Pontos prévios:
a) Me mate grava tudo o que é filme. Bom, tudo-tudo não, que eu não deixo, dado que a box a partir de 250 horas gravadas (por acaso é só metade da quota) começa a ficar lelé, e depois eu aborreço-me, e pronto, é uma discussão que se poupa. Mas grava tanta merdinha, benzó. Diz o ser original que se aprende muito a ver mau cinema, e por mim tudo bem, ele que aprenda lá o que quiser, desde que não me encrave o bezidróglio.
b) Tirando os filmes de terror (90% deles muito merdosos, vide considerando que antecede), que já sabe que bate à porta errada, o home pergunta sempre se aquilo que ele achou por bem gravar, me interessa partilhar de sua visualização. Ele há dias em que acordei mais magnânima, benemérita, praticamente zen, e digo que sim. Mesmo com todos os sistemas de alarme a tilintar cá dentro. Foram esses sistemas de alarme que me pouparam às sequelas de Matrix, por exemplo. É um excelente sistema de alarme.
c) Sou fã(zorra) da colecção Valérian e Laureline ali desde os meus 13 anos de idade. Li todos, tinha metade (eram outros tempos, as BD eram caras) e reli estes vezes sem conta. Laureline era a minha heroína, e queria ser como ela.
Dito isto, maldita a hora em que me mate gravou Valerian e Cidade dos Mil Planetas, remaldita a hora em que me perguntou se avançava sozinho ou eu o acompanhava, e re - mil vezes! - maldita a hora em que eu respondi "bora lá ver isso".
[pequena pausa para engolir o choro]
[ok, já estou melhor, mais recomposta]
[não estou nada, mas coragem, coragem, Izzie, conta ao mundo a tua história, ajuda alguém a salvar-se]
O filme é uma bosta tão grande, credo. Uma enorme, fumegante, bosta.
Por onde começar?
Olha, nem vás mais longe o título. Vamos lá por pontos.
i) Porquê "Valerian e(...)", porquê só "Valerian"? A Laureline também vai, a Laureline é membro da equipa, a Laureline tem o seu nome nos álbuns da série. Então porque eliminam o seu nome do título do filme? Piretes.
ii) Já agora, o resto do título é publicidade enganosa. Um dos álbuns (bem bom, por sinal) tem como nome O Império dos Mil Planetas, mas não, nãããão é essa a história que aqui se vai contar. Porque deram este nome a um (fideputa de ruim de) filme que é baseado (muito livremente, já lá vamos) n' O Embaixador das Sombras? Sei lá. Mais um raminho de piretes.
iii) Começam logo o estraganço de celulóide a apresentar-nos o local onde se desenvolverá a maior e mais central parte da trama. E eu a enervar-me porque aquilo não é Alpha nem o falo que os fornique, é Ponto Central, estúpidos de fezes. Cestinho de piretes, com um lacinho à roda.
iv) O actor que faz de Valérian. Pausa. Suspiro. Soluço. Qu'esta merda, pá? Eu nem precisava de o ver a actuar, o gajo não tem focinheira para Valérian. Valérian é um homem feito, nos seus vinte e muitos trinta e poucos, e não um fulanito que nem tem vestígio de barba. Olha, nem merece um pirete.
v) E depois começa a narrativa, com uma cena de assédio macho-mucho-stupido de Valérian sobre a sua parceira Laureline. Uma cena inenarrável, para quem conheça os livros. Havia tensão sexual? Havia sim senhora. Que, a dado momento, mas muuuuito lá para a frente, chegou a vias de facto? Confirmo. Mas a cena deles tinha classe, c-l-a-s-s-e. O bate boca, ai o bate boca. Se Valérian fizesse a Laureline metade do que aparece ali no filme, levava um banano que lhe virava a cara do avesso. Detestável. E mau texto. E química zero. Um bidon de piretes.
vi) E pronto, nem cinco minutos decorridos e começa a ficar bem patente que vão jogar na mesa toda a téquenologia possível, (d)efeitos especiais com fartura, tudo para encher o olho e a gente não perceber que o conteúdo está muito mauzinho. Entretanto confirma-se que a história base é a d'O Embaixador das Sombras, mas fortemente adaptado: afinal o original conta com a Laureline a dominar e protagonizar a narrativa do princípio ao fim, e aqui têm de justificar o nome do "herói" no título. Uma pick-up de piretes.
vii) Adormecemos ali entre o meio e o fim. Não perdemos nada. Acordámos antes do fim, e isso é que foi uma pena, um soninho tão bom, tão perfeitinho, tão bem feito, a estragar-se assim. O fim é [inserir ruído de vómito]. O amorrrr, o amorrrr, olha, aqui é mesmo um camião TIR de piretes, haja decência, haja pudor em fazer isto a uma fã(zorra), e transformar a Laureline numa partenaire, numa sidekick que finalmente não resiste ao "herói", rameira que deu à luz.
Em conclusão, não há direito. Também é para estas situações que serve o Tribunal Penal Internacional, digo eu. Genocídio de obra, insisto. Apanhem-nos, que ainda andam aí.
Não faço ideia se os criadores tiveram alguma coisa a ver com isto, se apenas cederam direitos e/ou colheram dinheiros, mas pronto, espero que não tenham tido qualquer participação artística.
[vai ver ficha técnica]
Não tiveram, o único responsável pelo argumento, com dolo intenso e directo, foi o Besson, que arda num autocarro de piretes.
Descubro entretanto que Mézières foi designer/consultor n'O 5º Elemento (este é bem bom, por acaso, e envelheceu bem - estão a passar tudo do Besson nos telecine).
E fazer isto a Pierre Christin, que escreveu os (para mim) melhores três álbuns de Bilal (A Cidade Que Não Existia, A Falange da Ordem Negra, e A Caçada).
Miserável. Deplorável. Angustiante. Dói-me aqui. Na alma.
a) Me mate grava tudo o que é filme. Bom, tudo-tudo não, que eu não deixo, dado que a box a partir de 250 horas gravadas (por acaso é só metade da quota) começa a ficar lelé, e depois eu aborreço-me, e pronto, é uma discussão que se poupa. Mas grava tanta merdinha, benzó. Diz o ser original que se aprende muito a ver mau cinema, e por mim tudo bem, ele que aprenda lá o que quiser, desde que não me encrave o bezidróglio.
b) Tirando os filmes de terror (90% deles muito merdosos, vide considerando que antecede), que já sabe que bate à porta errada, o home pergunta sempre se aquilo que ele achou por bem gravar, me interessa partilhar de sua visualização. Ele há dias em que acordei mais magnânima, benemérita, praticamente zen, e digo que sim. Mesmo com todos os sistemas de alarme a tilintar cá dentro. Foram esses sistemas de alarme que me pouparam às sequelas de Matrix, por exemplo. É um excelente sistema de alarme.
c) Sou fã(zorra) da colecção Valérian e Laureline ali desde os meus 13 anos de idade. Li todos, tinha metade (eram outros tempos, as BD eram caras) e reli estes vezes sem conta. Laureline era a minha heroína, e queria ser como ela.
Dito isto, maldita a hora em que me mate gravou Valerian e Cidade dos Mil Planetas, remaldita a hora em que me perguntou se avançava sozinho ou eu o acompanhava, e re - mil vezes! - maldita a hora em que eu respondi "bora lá ver isso".
[pequena pausa para engolir o choro]
[ok, já estou melhor, mais recomposta]
[não estou nada, mas coragem, coragem, Izzie, conta ao mundo a tua história, ajuda alguém a salvar-se]
O filme é uma bosta tão grande, credo. Uma enorme, fumegante, bosta.
Por onde começar?
Olha, nem vás mais longe o título. Vamos lá por pontos.
i) Porquê "Valerian e(...)", porquê só "Valerian"? A Laureline também vai, a Laureline é membro da equipa, a Laureline tem o seu nome nos álbuns da série. Então porque eliminam o seu nome do título do filme? Piretes.
ii) Já agora, o resto do título é publicidade enganosa. Um dos álbuns (bem bom, por sinal) tem como nome O Império dos Mil Planetas, mas não, nãããão é essa a história que aqui se vai contar. Porque deram este nome a um (fideputa de ruim de) filme que é baseado (muito livremente, já lá vamos) n' O Embaixador das Sombras? Sei lá. Mais um raminho de piretes.
iii) Começam logo o estraganço de celulóide a apresentar-nos o local onde se desenvolverá a maior e mais central parte da trama. E eu a enervar-me porque aquilo não é Alpha nem o falo que os fornique, é Ponto Central, estúpidos de fezes. Cestinho de piretes, com um lacinho à roda.
iv) O actor que faz de Valérian. Pausa. Suspiro. Soluço. Qu'esta merda, pá? Eu nem precisava de o ver a actuar, o gajo não tem focinheira para Valérian. Valérian é um homem feito, nos seus vinte e muitos trinta e poucos, e não um fulanito que nem tem vestígio de barba. Olha, nem merece um pirete.
v) E depois começa a narrativa, com uma cena de assédio macho-mucho-stupido de Valérian sobre a sua parceira Laureline. Uma cena inenarrável, para quem conheça os livros. Havia tensão sexual? Havia sim senhora. Que, a dado momento, mas muuuuito lá para a frente, chegou a vias de facto? Confirmo. Mas a cena deles tinha classe, c-l-a-s-s-e. O bate boca, ai o bate boca. Se Valérian fizesse a Laureline metade do que aparece ali no filme, levava um banano que lhe virava a cara do avesso. Detestável. E mau texto. E química zero. Um bidon de piretes.
vi) E pronto, nem cinco minutos decorridos e começa a ficar bem patente que vão jogar na mesa toda a téquenologia possível, (d)efeitos especiais com fartura, tudo para encher o olho e a gente não perceber que o conteúdo está muito mauzinho. Entretanto confirma-se que a história base é a d'O Embaixador das Sombras, mas fortemente adaptado: afinal o original conta com a Laureline a dominar e protagonizar a narrativa do princípio ao fim, e aqui têm de justificar o nome do "herói" no título. Uma pick-up de piretes.
vii) Adormecemos ali entre o meio e o fim. Não perdemos nada. Acordámos antes do fim, e isso é que foi uma pena, um soninho tão bom, tão perfeitinho, tão bem feito, a estragar-se assim. O fim é [inserir ruído de vómito]. O amorrrr, o amorrrr, olha, aqui é mesmo um camião TIR de piretes, haja decência, haja pudor em fazer isto a uma fã(zorra), e transformar a Laureline numa partenaire, numa sidekick que finalmente não resiste ao "herói", rameira que deu à luz.
Em conclusão, não há direito. Também é para estas situações que serve o Tribunal Penal Internacional, digo eu. Genocídio de obra, insisto. Apanhem-nos, que ainda andam aí.
Não faço ideia se os criadores tiveram alguma coisa a ver com isto, se apenas cederam direitos e/ou colheram dinheiros, mas pronto, espero que não tenham tido qualquer participação artística.
[vai ver ficha técnica]
Não tiveram, o único responsável pelo argumento, com dolo intenso e directo, foi o Besson, que arda num autocarro de piretes.
Descubro entretanto que Mézières foi designer/consultor n'O 5º Elemento (este é bem bom, por acaso, e envelheceu bem - estão a passar tudo do Besson nos telecine).
E fazer isto a Pierre Christin, que escreveu os (para mim) melhores três álbuns de Bilal (A Cidade Que Não Existia, A Falange da Ordem Negra, e A Caçada).
Miserável. Deplorável. Angustiante. Dói-me aqui. Na alma.
sexta-feira, 8 de junho de 2018
[ sometimes it hits too close to home ]
Talvez um dia consiga falar (novamente) sobre o assunto. Hoje não consigo, tal como não consegui aquando de Chris Cornell ou Robin Williams. Não que me faltasse o que dizer, mas não tinha (nem tenho) o como e, principalmente, o porquê. É muito bonito, esse (hoje) firmado incentivo e convicção de coachers e life-stylers da treta para usar o coração fora do peito, de não ter medo da vulnerabilidade, mas, sinceramente, não vale a pena. Ou antes, muitos dos que andam aí não (me) valem a pena. A maior parte das pessoas, se não lhes calhar em jeito a demora, não consegue sequer respeitar uma passadeira, quanto mais. Não sabem - porque não querem - ver o outro, reconhecê-lo, respeitá-lo. Ver ou tentar ver as coisas da sua perspectiva. Reparar. Nem os que mais apregoam a sua boa-vontade, a sua çençibilidade - se lhes calhar em jeito, são os primeiros a sacar da adaga. Ou a passar adiante. Ou a forçar a sua bem intencionada (sempre bem intencionada! deuz nos livre de duvidar disso!) mundividência. Ouvem enquanto não se lhes torna insuportavelmente tedioso ouvir, e logo atalham com um "sim, mas", ou equivalente.
Não ia dizer nada, mas já disse demais. Mas que safoda, não apago.
Hoje, apenas um brinde por um camarada caído em combate.
[You only know when you know.
Cheers.
Take care.]
quarta-feira, 6 de junho de 2018
[actualização]
Por alguma razão que desconheço, tinha aqui uns comentários por aprovar, e dos quais não fui notificada para o email de contacto que ainda se mantém nas definições do blog.
Surpreendentemente, mesmo depois de aprovados os comentários estes não "caíram" no tal endereço de mail. Nem sequer no spam.
Não faço a mais pequena ideia do que se passou, mas a gerência apresenta as suas desculpas, de qualquer forma. Raisparta a téquenologia.
Surpreendentemente, mesmo depois de aprovados os comentários estes não "caíram" no tal endereço de mail. Nem sequer no spam.
Não faço a mais pequena ideia do que se passou, mas a gerência apresenta as suas desculpas, de qualquer forma. Raisparta a téquenologia.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
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