Ah, as pausas.
No trabalho, quero eu dizer. Todos precisam; diz que é higiénico, há quem
defenda que retempera e faz recuperar a capacidade produtiva, e depois há os realistas
como eu, que as aproveitam para reflectir no horror existencial que é esta rat
race, a escravatura do ordenado, e no tanto – ou nada – a que nos poderíamos
dedicar não fosse haver continhas para pagar. Ah, a chafurdice em
auto-comiseração – quem nunca?
Mais saudável
que o cigarrinho é um hábito de pausa que adquiri. Ou daí não, porque poderá
advogar-se tratar-se de uma prática um nadica obsessiva-compulsiva. Mas
adiante: passear naquele site de venda de cenas, que começa por “O” (não faço
pub, que não me pagam para isso). Assim a título de exemplo, podemos escolher
pesquisar imóveis em Lisboa, e rir muito quando nos pedem 450 mil batatas por um apartamento com quarenta anos e que se viu uma camadinha de tinta desde que foi construído é já ser
optimista. Ou então, ruma-se aos móveis, escreve-se como critério de busca “vintage”,
e depois gargalhamos à parva quando se constata que, nos tempos que correm, há
quem tenha um conceito tão lato da palavra que até inclui na categoria uma bola
de cotão com mais de cinco anos. Enfim, um fartote.
No entretanto,
e como ainda não perdi a esperança de arranjar uma coffe table mêmo, mêmo gira,
ainda que a precisar de uma mãozinha, esta é uma das minhas opções. Já tropecei
em coisas inacreditáveis, como gente a tentar despachar coisas do Ikea a preço
de custo (ou mais), ou foleiradas que nem dadas, mas esta minha última
descoberta, oh pá.
Vede, vede:
A descrição
que acompanha o anúncio:
“Mesa de
centro com Mosaico de Azulejos Centenários (mosaico abstrato de Azulejos
clássicos, branco e azul cobalto). A estrutura da mesa é em Madeira de
Carvalho. Peça única (exclusiva), de autor.”
Tradução:
Por “azulejos
centenários” entenda-se cacos dos ditos, ou apanhados numa demolição (opção
optimista), ou deliberadamente partidos a partir da peça gamada / comprada a
quem gamou ou receptou. “Peça única” porque, r’almente, quem se lembrava disto.
“De autor”, sim, alguém é autor do crime, embora não digam quem. Pelo preço
proposto, fica a suspeita, a insinuação, a esperança que se trate de artista
consagrado, quiçá um Pomar, talvez um Cargaleiro, poderei sonhar uma Vieira da
Silva, ou mesmo um… Gaudi? Que por acaso até é um sujeito que se lembrou disto.
O preço? Oh,
uma pechincha. Só 720 biscas. Isso mesmo: setecentos e vinte. Sete nas
centenas, dois nas dezenas. Sete, dois, zero.
Fica à
consideração do amável leitor, que eu passo. Mas só porque as medidas não me
satisfazem, só por isso.
Corram, corram que ainda a apanham!